abril 30, 2010

O Conhecimento Social Sofisticado em Tocqueville, "um Liberal de nova Espécie"

3ª reunião do grupo de Estudos Humanistas, realizada em 30 de Abril.

1. BIOGRAFIA
- Alexis-Charles-Henri Clérel de Tocqueville nasceu em 29 de Julho de 1805, em Paris. Filho de uma família tradicional e legitimista, estudou na Faculdade de Direito de Paris, onde se formou em 1825.
- Aos 26 anos, em missão do governo francês, viajou junto com seu amigo Gustave de Beaumont para os Estados Unidos da América, para estudar o sistema penitenciário e carcerário de tal país. Seus relatos de viagem foram a base para o que viria a ser seu livro mais conhecido: “A Democracia na América”.
- Atuou no Parlamento francês durante cerca de vinte anos. Defendeu causas abolicionistas e o livre-comércio. Foi membro da Assembléia Constituinte de 1848, onde fez oposição aos socialistas. Chegou a ser ministro de Relações Exteriores durante alguns meses. Abandonou a política em 1851, após o golpe de Estado de Luís Bonaparte.
- Principais obras: “A Democracia na América” (1835-1840) e “O Antigo Regime e a Revolução” (1856).
- Faleceu aos 53 anos, em Abril de 1859, na cidade de Cannes.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
- Jon Elster: Ambigüidade, tendência à especulação e linguagem vaga são três aspectos recorrentes na obra tocquevilliana. O autor entra em contradição freqüentemente, mas nunca é claro o suficiente para podermos atestar se ele está errado ou não. O escritor francês, comparado com outros sociólogos (Marx, Weber, Durkheim), é profundamente assistemático. Parte disso se deve a seu desprezo pelo racionalismo abstrato típico do século XVIII. Tocqueville, assim como Mill, é um dos poucos pensadores de sua época que escapou de certos “males” das ciências sociais: holismo (negação do individualismo metodológico, em prol de entidades maiores), organicismo (analogia entre sociedades com organismos biológicos), funcionalismo (explicar fenômenos por seus efeitos, e não causas) e teleologia (acreditar que a história tem um sentido e uma direção). Tocqueville baseia-se em microfundações, e demonstra em “A Democracia na América” uma imaginação sociológica das mais poderosas e criativas; por exemplo, em seus “mecanismos causais exportáveis”.
- José Guilherme Merquior: Tocqueville possuía uma preocupação sincera com a base moral (especialmente a religiosa) das instituições liberais. Distinção entre egoísmo (vício atemporal) e individualismo (falta de virtude cívica nas sociedades democráticas). Aristocrático, ele sentia desprezo pelas classes médias, portadoras naturais desse individualismo. Cultivava um temor à doce servidão do Estado paternalista, assim como esperanças no autogoverno local e de associação voluntária.Talvez Tocqueville tenha sido o último arroubo do liberalismo cívico.
- Paulo Kramer: Tocqueville era um aristocrata por instinto e democrata por preferência intelectual. Estava preocupado com o homo democraticus e sua exclusiva concentração em seus interesses privados e o conseqüente relaxamento das virtudes cívicas. Concebia a tarefa de historiador como “pedagogia da liberdade”; ou seja, uma visão histórica que privilegiasse o livre-arbítrio. Comparação com Weber – ambos conferem supremo valor à liberdade, à independência ética e intelectual, à autodeterminação humana e ao senso de responsabilidade, além de abominarem a uniformização, a vulgaridade e a servidão voluntária da sociedade de massas. O francês, que escreveu meio século antes do alemão, é mais otimista quanto ao futuro desta sociedade democrática.
- José Osvaldo de Meira Penna: o pensador francês receava a emergência de uma sociedade de massas, manipulada por uma nova classe de ideólogos e burocratas, e governada por um Estado que impõe a tirania de uma maioria demagógica. Não era saudável que a sociedade exagerasse seus cuidados sobre o indivíduo, pois cada um é administrador mais competente dos seus interesses. Uma das análises mais certeiras de Tocqueville foi a constatação de que a democracia é frágil perante os Estados despóticos, no âmbito da política externa e defesa militar. Porém, ela possui virtudes insuperáveis para assegurar o desenvolvimento, a justiça e o bem-estar dos povos. Comparação com Dostoiévski: ambos se preocupam com os excessos do igualitarismo jacobino, assim como seu caráter místico; o Grande Inquisidor criado por Ivan Karamázov fala da promessa de felicidade terrena, com “liberdade igual” e segurança, mas que não passa de uma “gaiola dourada”.

3. INTERPRETAÇÃO
- Influência dos fatores naturais: isolada pelo Oceano Atlântico da Europa, os americanos não precisam se preocupar com rivalidades com vizinhos e guerras. Com isso, a glória militar ainda não exerce grande força sobre o espírito do povo.
- Origem dos anglo-americanos: imigração forte de seitas religiosas perseguidas no Reino Unido – desde os Quakers e puritanos até os católicos ingleses. Assim que chegaram nas terras do Novo Mundo, estabeleceram um contrato social. Estavam movidos pela união íntima do espírito religioso com o espírito de liberdade.
- Situação social: as leis de sucessão, ao abolirem o direito de primogenitura (e promoverem a repartição igual dos bens entre os filhos), geraram uma contínua divisão das propriedades, minando assim o apego aristocrático à terra; em outras palavras, destrói a ligação íntima que existia entre o espírito de família e a conservação da terra”. Como conseqüência política desta medida legislativo, temos o aumento da igualdade de condições, inclusive de inteligência e força; há, portanto, um enfraquecimento do “status”, mesmo no sul do país. Felizmente, essa equalização não tornou os EUA mais fracos e despóticos, em razão do princípio de soberania do povo.
- Instituições: pode-se destacar as instituições comunais, a autonomia dos Estados e a esfera de atuação limitada (embora poderosa) da União. A Constituição Federal gerou um tal equilíbrio de poderes que, simultaneamente, fortaleceu a União e manteve a autonomia dos Estados. A sociedade civil também tem instâncias importantes, como as associações e a imprensa livre.
- Valores aristocráticos x democráticos: há uma boa definição de ambos no capítulo VI da 2ª parte. De um lado, preferir a aristocracia caso se prefira “dar ao espírito humano certa elevação, (...) inspirar aos homens uma espécie de desprezo pelos bens materiais, (...), fazer nascer ou conservar convicções profundas e preparar grandes devotamentos (...), polir os costumes, elevar os modos, fazer brilhar as artes (...), poesia, ruído, glória (...), organizar um povo de maneira a agir fortemente sobre todos os outros”, destinando-o “a tentar grandes empreendimentos e, seja qual for o resultado de seus esforços, a deixar um traço imenso na história”. Do outro, constituir o governo da democracia se o objetivo for “encaminhar a atividade intelectual e moral do homem para as necessidades da vida material e empregá-la para produzir o bem-estar; se a razão nos parece mais proveitosa aos homens que o gênio; se o nosso objetivo de modo nenhum é criar virtudes heróicas, mas hábitos pacíficos; se antes queremos ver vícios que crimes, e se preferimos encontrar menor número de grandes ações com a condição de encontrar menos ofensas; se, em vez de agir no seio de uma sociedade brilhante, basta-nos viver no meio de uma sociedade próspera; se, afinal, o objetivo principal de um governo de modo nenhum (...) é dar a todo o corpo da nação a maior força ou a maior glória possível, mas fornecer a cada um dos indivíduos que a compõe a maior parcela de bem-estar e evitar-lhe maior miséria”.
- Tirania da maioria: além de aumentar a instabilidade legislativa e ser o maior perigo à perpetuação da república americana, a onipotência da maioria exerce poder profundo até sobre o pensamento. “Dentro dos seus limites, o escritor é livre; mas infeliz daquele que ousar ultrapassá-los. (...) O senhor não diz mais: ‘Pensareis como eu ou morrereis’. Diz apenas: ‘Sois livre de não pensar como eu; vossa vida, vossos bens, tudo vos fica; mas, desde hoje, sois um estranho entre nós’”. Nessa pressão social também reside a falta de grandes escritores na América: “A Inquisição jamais pôde impedir que circulassem na Espanha livros contrários à religião da maioria. O império da maioria fez mais do que isso nos Estados Unidos: acabou até com a idéia de publicá-los”.
- “Checks and balances”: a ausência de centralização administrativa (vontade soberana não é uma, e precisa passar pelas comunas e condados), a influência dos juristas (único segmento de tendência aristocrática que goza de aprovação popular, são os maiores defensores do espírito legal e do respeito às leis) e a instituição principalmente política do júri (sua diversificada composição social lhe dá um caráter de educação cívica) são três mecanismos que impediram o avanço da tirania da maioria na América. Tocqueville também ressalta a importância das associações, da divisão de poderes e do federalismo. O desbravamento de fronteiras, somado ao valor dado ao bem-estar material pelos americanos, facilitam a extensão territorial do país, assim como a manutenção da democracia.
- O papel dos costumes e da religião: o cristianismo demonstrou seu caráter democrático e republicano, muitas vezes esquecido, na colonização da América. “O despotismo pode governar sem a fé, mas a liberdade não”. A religião modera a paixão pela inovação; possui, portanto, grande utilidade política – o que justifica, por exemplo, as missões de sacerdotes enviadas para o Oeste (papel da moral em gerar coesão social).
- Duas potências: “Dois grandes povos, (...) tendo partido de pontos diferentes, parecem adiantar-se para o mesmo fim”: a Rússia despótica e a América democrática. “Um combate o deserto e a barbárie, o outro, a civilização com todas as suas armas; por isso, as conquistas do americano se firmam com o arado do lavrador, as do russo com a espada do soldado”.

- Retórica e estilística: já na Introdução, há um trecho particularmente curioso, proferido enquanto Tocqueville falava da força irresistível da democracia nos tempos modernos: “Não é necessário que fale o próprio Deus para que descubramos sinais certos da Sua vontade; basta examinar a marcha habitual da natureza e a tendência contínua dos acontecimentos; sem que o Criador eleve a voz, sei que os astros seguem no espaço órbitas traçadas pela Sua mão”. Eis um recurso retórico para expressar a importância de se estar atento ao fenômeno democrático.
- Ambigüidades do texto: o termo “democracia” é utilizado com três sentidos diferentes: o regime político propriamente dito, a sociedade americana e a sociedade francesa. O autor é autoconsciente de seus paradoxos, como no seguinte trecho: “Tenho por ímpia e detestável a máxima de que, em matéria de govenro, a maioria de um povo tem o direito de tudo fazer, e, no entanto, situo nas vontades da maioria a origem de todos os poderes. Estarei em contradição comigo mesmo?” (2ª Parte, cap. VII)
- Tradição filosófica: influenciado por Aristóteles (análise multidisciplinar dos fenômenos sociais), Montesquieu (ênfase na cultura e nas virtudes típicas de cada regime político) e Rousseau (valorização da democracia e da virtude cívica).
- Em relação a seu espectro ideológico, pode-se dizer que evoca valores conservadores (tradicionalismo), liberais (culto à sociedade comercial e aos progressos trazidos pelo livre mercado), cristãos (livre-arbítrio) e republicanos (relevância participação dos cidadãos na vida pública).

4. INFLUÊNCIAS
- Cultura: Tocqueville tornou-se um ícone cultural para os Estados Unidos. Muitas vezes foi tomado como profeta, pois em seus escritos teria prenunciado a Guerra Civil, a abolição da escravatura, o avanço do Estado previdenciário e a Guerra Fria.
- Filosofia: segundo Stuart Mill, ele escreveu “o primeiro livro filosófico sobre a democracia, tal como se manifesta na sociedade moderna”. Influenciou o conservadorismo moderno, o liberalismo republicano e também doutrinas social-liberais.
- História: influência para historiadores baseados no individualismo metodológico e no estilo clássico. Os herdeiros de Tocqueville, portanto, faziam uma historiografia centrada nas idéias e ações de individualidades excepcionais.
- Sociologia: Raymond Aron é um dos que acreditam que ele foi um dos primeiros sociólogos, assim como o pioneiro no estudo da democracia e dos dilemas da igualdade. A abordagem “politeísta de valores” de Max Weber tem ecos tocquevillianos.
- Teoria Política: cientistas políticos como Robert Putnam, em suas formulações sobre o capital social e o papel da cultura cívica, evocam a importância que Tocqueville dava para o estudo conjunto de instituições e costumes.

abril 28, 2010

Divulgação do 3º encontro

“Não é necessário que fale o próprio Deus para que descubramos sinais certos da Sua vontade; basta examinar a marcha habitual da natureza e a tendência contínua dos acontecimentos; sem que o Criador eleve a voz, sei que os astros seguem no espaço órbitas traçadas pela Sua mão” (Introdução)

Somos um projeto de extensão que, ao longo deste ano, pretende ler e discutir alguns dos maiores clássicos do pensamento ocidental dos dois últimos séculos, em torno de um tema central: a Liberdade.

Em nosso 3º encontro, estudaremos o Livro I da obra “A Democracia na América”, do francês Alexis de Tocqueville (1805-1859).
Será desenvolvida uma leitura alternativa do livro; ao invés de um olhar sociológico e político, procuraremos analisar o texto em seus aspectos literários e filosóficos.
Em seu estilo metafórico e de linguagem clara, de que forma Tocqueville discorre sobre questões como liberdade, sociedade civil, igualdade, despotismo e o papel da religião e dos costumes?

Sexta-feira, 30 de Abril, às 15h, na Sala de Reuniões do IPOL.

Obs-1.: No tópico abaixo, vocês encontram as páginas recomendadas. Lembrando que o texto integral está na pasta 11 da Xerox do CADIR (FA), e os capítulos mais importantes a serem lidos são: Introdução, cap. III (1ª parte), VII a IX (2ª parte) e Conclusão.
Obs-2.: O próximo colóquio cultural, a ser realizado em 3 de Maio, será sobre o pensamento social e político de José Guilherme Merquior. Mais detalhes em breve.

abril 24, 2010

3º Encontro - "A Democracia na América", 30/4

O próximo encontro do grupo de Estudos Humanistas será sobre a obra "A Democracia na América", do francês Alexis de Tocqueville (1805-1859). Procuraremos fazer uma leitura alternativa do livro - menos sociológica e política e mais literária e filosófica.
Leremos o Livro I ("Leis e Costumes"), publicado em 1835; o 2º volume ficará para o debate de 14 de Maio.
Eis as páginas recomendadas:

Primeira parte: Introdução, Capítulos I ("Configuração exterior da América da Norte"), II ("Da origem dos anglo-americanos e de sua importância para o seu futuro"), III ("Situação social dos anglo-americanos"), IV ("Do princípio da soberania do povo da América"), V ("Necessidade de estudar o que se passa nos estados..."; apenas a seção "Dos efeitos políticos da descentralização administrativa nos Estados Unidos"), VI ("Do poder judiciário nos Estados Unidos e de sua influência sobre a sociedade política") e VIII ("Da Constituição Federal"; apenas as seções "O que distingue a Constituição dos Estados Unidos da América..." e "Das vantagens do sistema federativo em geral...").
Segunda parte: Capítulos I ("Como se pode dizer rigorosamente que nos Estados Unidos é o povo que governa"), III ("Da liberdade de imprensa nos Estados Unidos"), IV ("Da asociação política nos Estados Unidos"), V ("Do governo da democracia na América"; apenas até a seção "Instabilidade administrativa nos Estados Unidos"), VII ("Da onipotência da maioria nos Estados Unidos..."), VIII ("Do que mitiga nos Estados Unidos a tirania da maioria"), IX ("Das causas principais que tendem a manter a república democrática..."; apenas até a seção "Influência indireta que as crenças religiosas exercem...") e Conclusão.

Pela edição da Itatiaia, serão 129 páginas a ser lidas. A da Martins Fontes, por ter fonte e espaçamento maiores, deve ter cerca de 170.

A reunião será na próxima sexta-feira, dia 30 de Abril, às 15h, na sala de reuniões do IPOL.

abril 18, 2010

Entre românticos, materialistas e cristãos: "Somos todos Karamazovianos agora"

Segunda reunião do grupo de Estudos Humanistas, realizada em 16 de Abril.

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
- Paulo Bezerra: “Os Irmãos Karamázov”, em seu mosaico de temas, constitui um romance-síntese. Personagens que “migraram” da vida real para o romance (ex.: Dmitri e o parricida inocente; Ivan como alter ego de seu criador). Aliócha, o homem-universo (mediação, compreensão e amor ativo pelo ser humano). É possível haver virtude sem religião? A linguagem como pilar da independência das personagens.
- Leopoldo Waizbort, “Max Weber e Dostoiévski: Literatura Russa e Sociologia das Religiões”: o cristianismo dostoievskiano é semelhante ao dos primeiros tempos (comunitário, o crente virtuoso como ideal de vida, ética do amor, campo, superação do mundo, um Deus que perdoa, contemplação ou ascese extramundana). Contraposição ao protestantismo ascético estudado por Weber (individualista, homem de vocação, ética do dever, cidade, dominação do mundo, um Deus que escolhe, ascese intramundana). Zossima x Fierapont. Viver no mosteiro x viver no mundo. Contraste Ocidente-Oriente: separação completa entre Estado e Igreja ou anti-secularização? A idéia do “destino” (“daimon”).
- Haron Gamal: personagens humanos, demasiadamente humanos. Renegar ou não um pai que abandona? O valor do homem comum; o mundo que sempre esteve ao nosso lado.
- Darthmouth, “Reading the Brothers Karamazov”: o que leva à crise fé de Aliócha, e como ele a resolve? Semelhanças entre Dmitri e Zossima. Qual o sentido da mudança de trama no livro 10? Quais os demônios que atormentam cada personagem no livro 11? Como é o painel da cultura russa do século XIX pintado pelo autor no tribunal? Aliócha é realmente o herói do romance?

2. INTERPRETAÇÃO
- “Cheiro Deletério” (L7, C1): após a morte do stárietz Zossima, surge um odor que sugere a putrefação, o que vai de encontro com a expectativa dos fiéis de que seu corpo não entraria em decomposição. O monastério entra em alvoroço; muitos até questionam sua fé em Zossima. Aliócha, horrorizado, foge. Rakítin aproveita o momento de abalo de seu colega para convencê-lo a visitar Grúchenka.
- Aliócha desespera-se perante a superficialidade da fé das pessoas, que atribuíam o caráter sagrado a seu stárietz não pela sua alma e boas ações, mas por uma expectativa de que seu corpo não apodreceria. Em sua vacilação, aceita visitar Grúchenka. Porém, ao invés de se corromper, Alieksiêi auxilia a moça em sua redenção espiritual. Ao final do livro, sua fé, posta em xeque, é renovada, e sua razão, fortalecida por essa reviravolta. Ele passa a aceitar mais serenamente a missão de “residir no mundo”.
- “Delírio” (L8, C8): em meio à orgia, Dmitri, que pouco antes pensava que aquela seria sua última noite e que iria se matar logo ao amanhecer, finalmente conquista o coração de Grúchenka. Ambos fazem juras de amor: “e que nós sejamos honestos e bons, não como animais, mas bons... Leva-me”. Subitamente, aparecem o comissário, o promotor e o juiz de instrução, com o mandado de prisão de Mítia. Este, pensando que o acusarão de ter assassinado Grigori, exclama: “Com-pre-en-do!”
- “O grande segredo de Mítia. Os apupos.” (L9, C7): em meio ao interrogatório, no qual insiste que não derramou o sangue de seu pai (e que tampouco roubou os três mil rublos), revela a origem do dinheiro que esbanjara naquela noite – era metade do empréstimo que Catierina lhe fizera um mês antes, e ele escondera as notas em um saquinho no pescoço. Sem evidências que contestem a culpa de Dmitri no crime, ele é levado preso.
- Dmitri, após passar a noite inteira correndo atrás de dinheiro para quitar a sua dívida (e salvar sua honra) perante Catierina, resolve ir à casa do pai, procurando por Agrafiena. Não a encontrando, resolve fugir, mas no caminho acaba ferindo Grigori, que o agarrara pela perna, pensando que Mítia havia matado Fiódor. Quando Dmitri, encharcado de sangue, descobre por Fiênia que sua amada foi para Mókroie com o oficial que fora o 1º amor dela (mas, há cinco anos a abandonara), toma uma “decisão repentina”: farrear e cometer suicídio. Em uma reviravolta, ele supera seu rival, e Grúchenka se declara para Mítia. Em nova tragédia do destino, ele é acusado de ter matado o pai, e nem a revelação de um segredo que para ele era tão desonroso alivia a suspeita de seus interrogadores. É um dos capítulos em que o romantismo do personagem, assim como sua tensão entre o sensual/mundano e o ideal/nobre, é mais explícito.
- “Desenvolvimento precoce” (L10, C6): Kólia, devastado pela iminência da morte de seu colega Iliúcha, abre-se com Aliócha. Revela que é socialista e pouco crédulo (“A fé cristã só serviu aos ricos e nobres para que mantivessem a classe inferior na escravidão”). Seu discurso evoca várias das opiniões da intelectualidade russa. Ao final, lamenta seus esforços em parecer erudito e admira Alieksiêi pela sua modéstia e bondade.
- “A terceira e última conversa com Smierdiakóv” (L11, C8): o mistério é finalmente desvendado, e em detalhes. O ex-criador de Fiódor Karamázov revela como matou seu suposto pai – a crise epilética fingida, o envelope rasgado, a apreensão de Fiódor, o golpe com o peso de papel, o dinheiro escondido. Além disso, acusa Ivan de ter sido o mentor intelectual do crime, por não só ter revelado indiferença pelas ameaças à vida de seu pai (a viagem para Moscou), mas por ter pregado que “tudo é permitido”. O irmão do meio confessa que subestimou a inteligência de Smierdiakóv, e jura que irá denunciá-lo no tribunal.
- Smierdiakóv: um dos personagens mais soturnos da obra dostoievskiana. Embora aparente ser apenas um demente adoentado e de passado trágico, possui sagacidade e frieza impressionantes. A forma calculista com que cometeu o assassinato de Fiódor revela mais do que uma vingança pela bastardia: é uma aplicação do niilismo pregado por Ivan; um crime que não precisa de sanção moral, pois a própria moralidade é questionável.
- “O Diabo. O pesadelo de Ivan Fiódorovitch” (L11, C9): um dos capítulos mais fascinantes de “Os Irmãos Karamázov”. Ivan, em um delírio, é visitado pelo diabo. Ao invés de um Satanás amedrontador, o demônio é um simplório “gentleman”. Este debocha de todas as idéias de Ivan, desde “O Grande Inquisidor” até “A Revolução Geológica”. Como agente da discórdia, cabe ao diabo dar movimento (e talvez sentido) à vida, e impedir que todos gritem juntos: “Hosana!”. Ele é sarcástico quanto a seu ‘ofício’: “Retrógrado é crer em Deus, em nossa época, mas no diabo, em mim, pode-se. (...) Sou proibido formalmente de externar meus melhores sentimentos, como a gratidão, por exemplo, unicamente por minha posição social”. Frente à insistente negação de Ivan, ele afirma: “Pelo arroubo com que me negas, vou me convencendo de que, apesar de tudo, crês em mim”.
- Ivan: seu cinismo moral atormenta a todos à sua volta. Possui uma profunda angústia existencial (ele precisa “resolver uma idéia”, como diria seu irmão Aliócha). Racionalismo tem sua faceta niilista e destruidora revelada. Ele encontra em Smierdiakóv e no diabo os seus duplos. Sente-se cúmplice da morte do pai. Dostoiévski antecipa em dez anos as idéias (e a crise de loucura) de Nietzsche: “ao novo homem, ainda que seja a um só no mundo inteiro, será permitido tornar-se homem-deus e (...) passar tranquilamente por cima de qualquer obstáculo moral imposto ao antigo homem-escravo, se isso for necessário. Para um deus não existe lei! (...) ‘tudo é permitido’, e basta!
- “A catástrofe repentina” (L12, C5): em seu 1º depoimento, Catierina ressalta o lado nobre de seu ex-noivo. Porém, quando as coisas pareciam caminhar para uma absolvição (ou mesmo um pena menor) para Mítia, seu irmão Ivan faz um depoimento confuso e perturbador, que mais atrapalha do que ajuda a defesa de Dmitri. Desesperada com a situação daquele, Catierina entra em histeria e faz revelações prejudiciais ao réu, inclusive mostrando uma carta com a "prova matemática" do crime, que ele havia escrito em estado de embriaguez.
- Catierina e Grúchenka formam uma peculiar rivalidade feminina. A primeira, elegante mas histérica, e a segunda, bela porém perversa. Lutam pelo amor de Dmitri, o que acaba sendo fatal para o próprio destino deste.
- “O discurso do promotor. Tópicos” (L12, C6): por meio de um método rigorosamente histórico, apela à moral para condenar Dmitri por roubo e parricídio. Referindo-se às “vozes alarmadas vindas da Europa”, é categórico: “Não as tenteis, não alimenteis seu ódio sempre crescente com uma sentença que absolva o assassinato de um pai pelo próprio filho!”
- “Adúltero do pensamento” (L12, C13): o advogado de defesa adota a lógica para refutar cada uma das provas e fatos do crime, demonstrando que o réu não cometeu assassinato nem roubo. No final do discurso, faz um apelo eloqüente: “é preferível deixar escapar dezenas de culpados do que punir um inocente”. Mesmo assim, Dmitri é considerado culpado pelo júri, e terá que cumprir 20 anos de serviços forçados.
- O Tribunal representa a crise de consciência russa, aguçada pela própria modernização (expressa nos tribunais abertos ao público, p. ex.). Deve-se punir aquele que tinha todos os motivos para matar ou pai, ou reconhecer o direito de vingança àquele que foi rejeitado pelo seu próprio genitor?
- “Os funerais de Iliúchetchka. O discurso junto à pedra” (Ep, C3): Aliócha pede aos meninos que mantenham viva em seus corações a memória de Iliúcha; além disso, implora que eles, mesmo que se separem, nunca deixem de amar um ao outro. O valor da amizade.
- Eslavismo cristão vs. Ocidentalização: além das questões teológicas, podemos opor Ivan e Alieksiêi pelas visões político-filosóficas que nutrem sobre o futuro da Rússia. Enquanto o irmão caçula, pelo seu próprio conservadorismo e jeito amável de ser, encarna o lado místico e quase chauvinista da pátria russa, Ivan representa o pensamento ocidental: ateísmo, secularização, progresso sócio-econômico (seja pelo liberalismo ou pelo socialismo).

3. INFLUÊNCIAS
- Joy Division (ápice da reflexão existencialista do post-punk): “Dead Souls” e a necessidade desesperada de escapar do inferno pessoal (“They keep calling me”); “She’s Lost Control” e a temática da epilepsia (“Confusion in her eyes that says it all”); “The Kill” e a redenção pelo crime (“Just something that I knew I had to do”); “Atrocity Exhibition” e a perversão mundana (“But the sickness is drowned by cries for more”); “The Eternal” e a resignação ao vazio existencial (“Just watching the trees and the leaves as they fall”).
- Romances polifônicos: cada personagem funciona como um ser autônomo dotado de voz, posição própria e visão de mundo. Os exemplos vão desde “Uma Casa no Fim do Mundo” (Michael Cunningham”) até “Ulisses” (James Joyce).
- Debates filosóficos: existência ou não de Deus; relações entre religião e moral; vias da modernização na Rússia (a Revolução de 1917 como opção pelo modelo ocidental); o parricídio como crime mais abominável; a redenção pelo crime; os limites da liberdade humana perante ambições como a do ‘homem-deus’.

abril 16, 2010

O Teatro Mágico de Hermann Hesse

11º colóquio, realizado em 12 de Abril.

1 – Biografia
- Hermann Hesse nasceu em 2 de Julho de 1877, na cidade alemã de Calw.
- Seus pais eram pietistas, fato que, somado à rebelião do jovem com as escolas religiosas em que estudou, foi motivo de muitos conflitos entre o futuro escritor e eles. Segundo sua mãe, ele tinha “uma luta interna contra seu temperamento tirânico, sua turbulência apaixonada”. Mesmo na juventude sentia-se alienado dos valores pequeno-burgueses.
- Engajou-se na crítica ao militarismo alemão na I Guerra Mundial. Na mesma época, desenvolveu grande interesse pela psicanálise, consultando-se com Carl Jung em pessoa.
- Seus dois primeiros casamentos, com a fotógrafa Maria Bernoulli (1904-1911) e a cantora Ruth Wenger (1924), foram mal-sucedidos. Hesse só teve um relacionamento estável e duradouro com a historiadora da arte Ninon Hesse, com quem se casou em 1931.
- Passou por uma profunda crise espiritual nos anos 20, dividido entre seu humanismo e sua rebeldia misantrópica. Os problemas conjugais, somados à sua dificuldade em manter uma vida social, levaram-no a cultivar pensamentos suicidas.
- Na década seguinte, fez oposição à ideologia nazista, e inclusive ajudou Bertold Brecht e Thomas Mann a irem para o exílio. Porém, detestava mais ainda a política em geral, e nunca assumiu posições ideológicas claras.
- Principais obras: “Demian” (1919), “Siddharta” (1922), “O Lobo da Estepe” (1927) e “O Jogo das Contas de Vidro” (1943).
- Ganhou o Prêmio Goethe e o Nobel de Literatura em 1946. Faleceu em 1962, em Montagnola (Suíça), aos oitenta e cinco anos de idade.

2 – “O Lobo da Estepe”
- Segundo o narrador, “Haller era um gênio do sofrimento; (...) ele, no sentido de várias acepções de Nietzsche, havia forjado dentro de si uma capacidade de sofrimento genial, ilimitada e terrível. (...) A base de seu pessimismo não era ‘o desprezo do mundo’, mas antes o desprezo de si mesmo; (...) era sempre o primeiro a quem dirigia suas setas”.
- É impossível amar o próximo sem antes amar a si mesmo. Haller era um homem deslocado, dividido entre duas épocas. É como se fosse inevitável que ele sofresse eternamente com a “incerteza do destino humano”.
- “Anotações de Harry Haller”: Harry, apátrida e solitário que odeia o mundo burguês, ironicamente, sempre viveu em casas pequeno-burguesas. Ele não sabe que prazeres e alegrias “levam as pessoas a trens e hotéis superlotados, aos cafés abarrotados, com sua música sufocante e vulgar, aos bares e espetáculos de variedades”. Enquanto isso, ele é o Lobo da Estepe, “aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível”. Porém, tudo mundo quando um dia lê um anúncio: “Teatro Mágico: Entrada só para os Raros”. Haller procura esse local misterioso, em busca da “Noitada Anarquista”. Encontra um folheto interessantíssimo...
- “O Tratado do Lobo da Estepe”: eis uma debochada biografia de seu próprio leitor. Harry, segundo o folheto, era um homem descontente consigo mesmo, pois vivia sob o conflito interno entre duas naturezas – homem (nobre, divino) e lobo (agressivo, satânico). Notívago, vivia à margem do mundo convencional; "nunca existira um homem com tão profunda e apaixonada necessidade de independência como ele".
- O burguês é “uma criatura de impulsos vitais muito débeis e angustiosos, temerosa de qualquer entrega de si mesma, fácil de governar. Por isso colocou em lugar do poder a maioria, em lugar da autoridade a lei, em lugar da responsabilidade as eleições”. Porém, a burguesia sobrevive graças aos lobos da estepe, pois estes, embora desterrados, "continuam de certo modo pertencendo a ela, obrigadas a ela e a seu serviço; (...) reforçam-na e glorificam-na, pois em última instância têm de professar sua crença para viver".
- Heller era um suicida, mas em um sentido particular: sentia “seu eu, certo ou errado, como um germe da Natureza, particularmente perigoso, problemático e daninho”. Era uma daquelas “almas que encontram o sentido de sua vida não no aperfeiçoamento e moldagem do ser, mas na dissolução”. Porém, essas almas são “incapazes de cometer o suicídio real, porque têm uma profunda consciência do pecado que isso representa”. Sendo assim, “vêem a redenção na morte e não na vida; estão dispostos a eliminar-se e a entregar-se, a extinguir-se e a voltar ao princípio”.
- Harry, assim como Fausto, vive a ilusão de que só possui duas almas (“ridícula dualidade”), mas tem uma multidão delas. O problema de Haller é que “tudo o que é covarde, símio, estúpido, mesquinho, (...) ele o atribui ao ‘homem’, assim como atribui ao ‘lobo’ tudo o que é forte e nobre, só porque não conseguiu ainda dominá-lo”. Após ler o folheto, ele admite que agiu freqüentemente como “D. Quixote, preferindo a honra à comodidade e o heroísmo à razão”. Porém, acha que o tratado não abarca completamente o seu ser individual, cujo destino é “único e insubstituível”.
- Quando se encontra com um jovem professor, o qual critica um artigo anti-militarista de “um tal de Haller” passa por um embate mental entre suas personalidades. “Assim estavam os dois Harrys, as duas figuras extraordinariamente antipáticas, (...) insultando-se, observando-se e cuspindo-se mutuamente, e ao mesmo tempo fazendo a si mesmas (...) a mesma pergunta: se aquilo não passava de debilidade e estupidez humana (...). Se tal sordidez fosse comum aos humanos, então podia entregar-me ao desprezo pelo mundo com renovadas energias, mas se fosse apenas uma debilidade pessoal, então ali estava o motivo para uma orgia de auto-desprezo”. Seu desespero só aumenta: “Por quê? Para quê? Haveria sentido em continuar sofrendo dias e mais dias assim, em continuar tragando tais sopas? Não! (...) Vá para casa, Harry, e corte o pescoço! Chega de esperar!”
- Em sua caminhada errante pela cidade, o protagonista vai parar em uma hospedaria, onde encontra Hermínia, “uma jovem bonita e pálida”, com quem conversa longamente. Ela o ensina a dançar (“Como pode dizer que a vida lhe deu muito trabalho se você nem sequer sabe dançar?”), e constata que ele gosta dela porque Hermínia conseguiu libertá-lo de seu isolamento. Em seguida, diz que pretende que ele se apaixone por ela, mas que quando isso ocorrer, Haller deverá matá-la, como uma forma de reconhecê-la como uma faceta dele. Hermínia é tudo que Harry é, mas também aquilo que não é e gostaria de ser. (Princípio jungiano do “anima”; relação com Clawdia Chauchat de “A Montanha Mágica”, obra de Mann)
- Por meio de Hermínia, Haller conhece sua amante, Maria, que lhe faz descobrir o prazer e a juventude; enfim, “a buscar fugazes alegrias, a ser criança e animal na inocência do sexo”. Para ele, Maria praticamente tinha como “seu ofício e sua tarefa extrair todo o prazer sensorial e amoroso que fosse possível obter dos sentidos que possuía”.
- Pablo, “o do saxofone, o dos olhos negros e das mãos longas, brancas, nobres e melancólicas”, ensina Harry a não levar a vida tão a sério.
- O baile de máscaras: após a dança, Haller conhece finalmente o Teatro Mágico, cheio de portas que revelam segredos, lembranças e traumas do protagonista.
- Em uma das portas, ele encontra Gustav, em um cenário que lembra uma guerrilha urbana (“Atira no chofer!”). Este, que era professor de Teologia e pacifista, resolve entrar na guerra e dá valiosas lições a Haller: “As coisas não vão bem quando a Humanidade fatiga excessivamente sua inteligência e procura ordenar com o auxílio da razão as coisas inacessíveis à razão. Então surgem ideais, tais como os dos americanos ou dos bolchevistas; ambos são extraordinariamente racionais, mas desejando ingenuamente simplificar a vida, acabam por violentá-la de maneira terrível.”
- No clímax da trama, ao encontrar Pablo e Hermínia nus em uma cama, Harry assassina sua amada, como havia prometido. (metáfora da libertação de suas personalidades ou retrocesso?)
- O Teatro Mágico: “Entrada só para os Raros” (Loucos). No desfecho, Harry Haller finalmente descobre o humor, aprendendo a rir. Por meio das diversas portas do Teatro Mágico, ele aprende a aceitar a realidade, e a ver a vida não mais como um choque entre os extremos (lobo e homem). Agora ele poderia viver no mundo burguês sem estar atormentado. “Pablo me esperava. Mozart também”.

3 – Influências
- Sua popularidade explodiu nos anos 60, época em que o caráter filosófico de suas obras foi exaltado pela contracultura; vários jovens estavam em uma “procura espiritual do eu”. A defesa de uma moralidade alternativa e a forte presença de sexo e drogas também contribuiu para que obras como “O Lobo da Estepe” encantassem tantos leitores, tanto na efervescência da década de 1960 como atualmente.
- Mesmo assim, Hermann Hesse julga esta obra como a "mais freqüente e violentamente incompreendida" de suas produções literárias. Segundo o autor, seus leitores focaram-se excessivamente na questão do sofrimento e no desespero. Ele afirma que “a história do Lobo da Estepe, embora retrate enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção”.
- O conjunto brasileiro O Teatro Mágico e a banda de rock clássico (e pioneira do heavy metal) Steppenwolf são dois exemplos da influência de Hesse na música popular. O quarteto de britpop Blur fez uma canção cujo título (“Strange News from Another Star”) é o mesmo de uma coleção de contos de Hesse. Algumas faixas do álbum “Amnesiac” (Radiohead) têm inspiração em “Siddharta”.
- “Siddharta” é um dos romances ocidentais mais influentes na Índia.
- Clarice Lispector, na composição de seus personagens, expressa certas dualidades e angústias que lembram as de vários personagens hessianos, como o próprio Harry Haller.

4 - Referências bibliográficas
HESSE, Hermann. “O Lobo da Estepe” (25ª edição). Rio de Janeiro: Record, 1998.
MALIK, Hassan M., “Steppenwolf: “The Genius of Suffering”. Disponível em: http://gator.dt.uh.edu/~hassanm4/steppenwolf.htm
Wikipedia – páginas sobre “Hermann Hesse” e “Steppenwolf”.

abril 12, 2010

2º Encontro - "Os Irmãos Karamázov", 16/4

16 de Abril, sexta-feira, é o dia da segunda reunião do Grupo de Estudos Humanistas. Discutiremos as temáticas mais relevantes da metade final do livro "Os Irmãos Karamázov", de Fiódor Dostoiévski.
Os capítulos recomendados são*:

- Livro 6, cap. 1 ("O stárietz Zossima e seus visitantes").
- Livro 7, cap. 1 ("Cheiro deletério") e 4 ("Caná da Galiléia").
- Livro 8, cap. 3 ("Lavras de ouro"), 4 ("No escuro"), 5 ("Uma decisão repentina") e 8 ("Delírio").
- Livro 9, cap. 2 ("Alvoroço"), 3 ("Tormento de uma alma em provações. Primeira provação"), 6 ("O promotor surpreende Mítia"), 7 ("O grande segredo de Mítia. Os apupos") e 9 ("Mítia é levado preso").
- Livro 10, cap. 5 ("À cabeceira de Iliúcha"), 6 ("Desenvolvimento precoce").
- Livro 11, cap. 3 ("Um demoniozinho"), 4 ("O hino e o segredo"), 7 ("A segunda visita a Smierdiakóv"), 8 ("A terceira e última conversa com Smierdiakóv"), 9 ("O Diabo. O pesadelo de Ivan Fiódorovitch") e 10 ("'Foi ele quem disse!'").
- Livro 12, cap. 4 ("A sorte sorri para Mítia"), 5 ("A catástrofe repentina"), 6 ("O discurso do promotor. Tópicos"), 8 ("O tratado sobre Smierdiakóv"), 9 ("A psicologia a todo o vapor. A troica a galope. Final do discurso do promotor"), 11 ("Não houve dinheiro. Não houve roubo"), 12 ("E tampouco houve assassinato"), 13 ("Adúltero do pensamento") e 14 ("Os mujiques se mantiveram firmes").
- Epílogo, cap. 1 a 3 (inteiro: "Projetos para salvar Mítia", "Por um minuto a mentira se fez verdade" e "Os funerais de Iliúchetchka. O discurso junto à pedra").

Pelas edições da Ediouro, Nova Cultura e Martin Claret, serão aproximadamente 250 páginas de leitura. Já a da Editora 34, por ter ilustrações e letra maior, serão cerca de 320. Tenham uma boa (e longa) leitura!

*Coloquei em itálico aqueles que serão mais importantes para o debate.

abril 08, 2010

Próximo colóquio? Hermann Hesse

Em sua 11ª edição, o colóquio cultural, pela primeira vez, discutirá uma obra de Literatura propriamente dita. Nosso bate-papo será sobre o escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962).
O foco será seu polêmico romance "O Lobo da Estepe". As discussões serão sobre diversas temáticas, tais como: desespero e isolamento; transcendência; as várias (e ambíguas) personalidades do protagonista; o contexto histórico (Alemanha do Entreguerras); a fantasia evocada pelo Teatro Mágico.
Lembrando que, nos colóquios, a leitura não é obrigatória; mas, para aqueles que queiram ir tendo alguma noção sobre "O Lobo da Estepe", eis o link para a versão online do livro. 
O encontro será na próxima segunda-feira, dia 12 de Abril, às 19h30, na Sorveteria Palato (comercial da 309 Norte).