julho 31, 2010

Dia 3/8 - A Teoria da Justiça Revisitada!

"A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento"
(John Rawls, capítulo 1 de "Uma Teoria da Justiça")

“Os indivíduos têm direitos, e há coisas que nenhuma pessoa ou grupo lhes pode fazer sem violar os seus direitos”


(Robert Nozick, prefácio de “Anarquia, Estado e Utopia”)


Estudos Humanistas apresenta:

A TEORIA DA JUSTIÇA REVISITADA:
IGUALITARISMO E LIBERTARIANISMO
John Rawls (1921-2002) e Robert Nozick (1938-2002)




Nosso projeto de extensão promoverá um debate sobre alguns dos principais conceitos (e implicações) de dois dos pensadores que revitalizaram a Filosofia Política Contemporânea: o que pensam sobre o conflito igualdade x liberdade, os direitos de propriedade, a formação do estado, a justiça social, a redistribuição de renda etc.
Também discutiremos estudos de caso que possibilitem uma melhor compreensão de ambas as teorias.

Leitura recomendada:
NOZICK, Robert. "Anarquia, Estado e Utopia" (trechos selecionados) . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
RAWLS, John. "Justiça como Equidade" (trechos selecionados) . São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SEN, Amartya. "Desenvolvimento como Liberdade" (trechos selecionados). São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
(os textos estão na pasta 11 da xerox do CADIR - FA)


Professores convidados:
- Paulo Nascimento (IPOL) - O
que é a Filosofia Política?
- Carlos Pio (IREL) - Os conflitos entre liberdade e igualdade
- Roberto Ellery (ECO) - Leitura econômica das Teorias da Justiça


Terça-feira, 3 de Agosto, 18 horas, no auditório Joaquim Nabuco (FA).

julho 20, 2010

A Boa Nova de um melancólico demiurgo

24º colóquio, realizado em 19 de Julho.

1. Introdução
- Neon Genesis Evangelion foi lançado em 1995. Foi criado e roteirizado por Hideki Anno, e o desenhista (e responsável pelo mangá) é Yoshiyuki Sadamoto. Anno havia se recuperado de 4 anos em que esteve em depressão clínica. O anime possui 26 episódios e 4 filmes (dois lançados à época, Death and Rebirth e The End Of Evangelion; dois mais recentes, iniciando a tetralogia Rebuild Of Evangelion); também foram publicados 12 mangás (série ainda não concluída).
- “A maior tragédia são os envolvidos no projeto”: as próprias pessoas empenhadas na criação da Evangelion apresentavam um considerável repertório de traumas, neuras e dramas pessoais. A depressão (falta de propósito existencial) talvez seja o tema principal de NGE.
- Obra simbolista: “Uma maneira espiritualizada, a procura do sublime, do além da consciência, uma maneira de fugir de realidade. Ao contrário de movimentos anteriores que fugiam da dor do Real, pela ‘morte’, o simbolista tem uma visão mais metafísica para a escapatória da dor de viver: A fuga da consciência.” Subjetivismo – impressão que o real o causa. Questionamentos existenciais.
- Segundo Impacto: desastre global que destruiu, direta (desequilíbrio ecológico, como a elevação do nível dos mares e o derretimento da Antártida) ou indiretamente (guerras civis), metade da população mundial. A retirada da Lança de Longinus (utilizada na crucificação de Jesus Cristo) de Adão foi mal-sucedida; ele só possuía o Fruto da Vida (e não ambos, este e o da Sabedoria), e perdeu o controle. A reintrodução da lança, apesar de ter gerado o anjo, impediu uma tragédia ainda maior – o aparecimento de outros anjos, que levariam a uma destruição completa.

2. Os Personagens
- Shinji Ikari: pessimismo à la Schopenhauer, “dilema do ouriço” (comportamento cauteloso e distante em relação às pessoas, com medo de se machucar, ter os sentimentos feridos). Masoquista, pois odeia tanto a si mesmo que gosta de fazer os outros também sofrerem. Não pilota o EVA por um senso de dever cívico ou por amor à humanidade, mas porque é tão fraco que deixa os outros tomarem as decisões por ele. Auto-menosprezo: indiferente a tudo, incapaz de reação. Depressivo, entra em colapso moral após a morte de Kaworu (cena da masturbação).
- Rei Ayanami: um robô com alma? Clone de Yui, a partir dos restos desta, que faleceu nos testes do EVA. Thanatos: desejo de morte (retornar ao nada como uma motivação). É a personagem mais inibida e introvertida, evitando ao máximo o contato humano. Porém, ao longo da série vai se “humanizando”.
- Asuka Soryu: esconde trauma (presenciou o suicídio da mãe) com arrogância e eficiência (ser sozinha e independente). Barreiras protetoras e agressivas. Quando são quebradas, seu quadro clínico é desvelado. É o primeiro passo para a cura de Asuka (episódio 25 alternativo).
- Misato Katsuragi: complexo de Electra, com uma identificação com a mãe a ponto de chegar ao desejo de possuir o pai. Entra na NERV com o intuito de vingar a morte de seu pai. Teve afasia durante dois anos, depois de presenciar o Segundo Impacto. Alega que namorou Kaji porque ele tinha uma personalidade parecida com a de seu progenitor: “largado”, irreverente, demonstra pouco seus sentimentos.
- Gendo Ikari: embora à primeira vista seja o vilão de NGE, na verdade é um humano tão complexado e inseguro quanto os demais personagens. Racional e obsessivo, possui justificações e auto-indulgências para a execução de seu plano. A maior delas – quer rever a alma da esposa.
- Ritsuko Akagi: praticamente repete a trajetória da mãe; eterno retorno. Ryoko tem um caso com Gendo, tem inveja de Yui, mata Rei I e comete suicídio, logo após a construção do sistema Magi. Ritsuko também se apaixona pelo pai de Shinji, quase enforca Rei II, destrói as cópias restantes do Sistema Dummy e é assassinada pelo próprio Gendo.

3. Interpretação
- Elementos de psicanálise: Gestalt (ex.: “Introjection”, episódio 19, mecanismo neurótico de processamento de experiências), ansiedade da separação (o protagonista perdeu a mãe e foi abandonado pelo pai; têm dificuldades no convívio social), complexo de Édipo (Shinji; retorno à mãe como fuga da realidade – ou, da consciência da mesma), fase oral (quando ele é incorporado ao Eva 01, que contém a alma de sua mãe – voltar ou não ao mundo real?).
- O Projeto de Instrumentalidade Humana lembra aspectos da teoria de Hegel (holismo). Mundo comunitário: fundir todas as almas humanas em uma só, para compensar os vazios de cada um e criar um ser perfeito e completo. Todos os campos AT, individuais, desapareceriam para se fundir em um só. Seria o fim dos conflitos humanos, alcançando-se assim a harmonia. O começo é o fim (anel), caráter de processo, auto-realização dos conceitos. É a evolução em etapas para a consecução de uma Idéia.
- Símbolos religiosos são recorrentes na série, principalmente os que remetem ao Cristianismo: Anjos e a cruz cristã (juízo sobre a morte), Velho Testamento (Deus vingativo), Magi e os três magos: “mulher, mãe e cientista” (Melquior, Gaspar, Baltasar), Lança de Longinus (crucificação).
- Além disso, há referências a Adão (pai da humanidade, feito à imagem e semelhança de Deus, Lua Branca), Lilith (a primeira esposa de Adão, recusou-se à submissão, Lua Negra) e Eva (mãe da humanidade, responsável pelo pecado original).
- O que é a Nerv? “God's in his Heaven, all's right with the world”. Folha de figueira: o que significa?
- Elementos de Kierkegaard: desespero humano. “O ‘eu’ é uma relação que se estabelece apenas consigo mesmo; voltar-se para si, em uma síntese. Há, no entanto, uma discordância interna: o desespero, que é “doença mortal”, um suplício contraditório, morrer sem literalmente morrer. É querer libertar-se de si mesmo e jamais consegui-lo.” (9º colóquio) Tal perspectiva está presente em vários dos personagens, especialmente Shinji e Misato. A filosofia de Sartre aparece na noção do “Outro”.
- EVA como ser humano gigante (alma construída a partir do contato com outros humanos), Unidade 01 como Deus (ou demônio?). Ironicamente, a humanidade é o último Anjo (18º no anime, 13º no mangá).
- Cabala (trazer clareza e compreensão sobre a natureza divina e a alma humana): Adão como microcosmo das forças da criação (homem arquetípico, síntese da Árvore da Vida); o divino feminino.
- Campo AT e a Alma Humana: é a proteção de que cada indivíduo dispõe para a sua alma.
- SEELE: teoria da conspiração? A raça humana está estagnada, parada; porém, ela poderia evoluir mais um passo. Cabe, portanto, moldar o verdadeiro destino da humanidade.
- O Apocalipse Angelical: Kaworu, dotado de uma beleza juvenil, instala uma dúvida cruel em Shinji Ikari, justamente no momento em que executava seu juízo final: matá-lo ou não. Neste caso, Kaworu iria se ligar a Adão, que na verdade era Lilith, ocasionando o 3º Impacto - agradando, assim, à SEELE, que provavelmente o mataria logo depois. A outra opção era ser assassinado pelo EVA 01, o que correspondia à sua vontade. Sexualmente ambíguo, chega a se declarar para Shinji, o que só reforça sua característica satânica (“o opositor”, aquele que traz a tentação).

4. Considerações Finais
- A “lição” (se é que existe uma): aceitação otimista da condição humana (é possível mudar e melhorar, apesar do meio desfavorável; “sua verdade pode ser alterada, simplesmente, pela maneira como você a aceita”) ou crítica ao gnosticismo (o homem não pode fundar uma nova realidade, imanentizar a humanidade, como se o conhecimento divino fosse acessível a alguns mortais)?
- "Qualquer lugar pode ser o paraíso, contanto que você tenha o desejo de viver" – epígrafe de The End of Evangelion. Shinji aceita a vida e recusa a instrumentalidade. Ode ao livre-arbítrio. Seria esta a boa nova sobre a criação (“Neon Genesis Evangelion”)?

Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Neon_Genesis_Evangelion_(anime)
http://www.rodrigoghedin.com.br/blog/2005/12/16/anjos-evas-e-adao-divagacoes-sobre-neon-genesis-evangelion/
http://shinjiemisato.sites.uol.com.br/review_critica_-_evangelion.htm
http://web.archive.org/web/20021224003127/
http://www.animedorks.com/issues/10/evae.html

julho 18, 2010

A Teoria da Justiça Revisitada: Rawls e Nozick

"A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento"
(John Rawls, capítulo 1 de "Uma Teoria da Justiça")

“Os indivíduos têm direitos, e há coisas que nenhuma pessoa ou grupo lhes pode fazer sem violar os seus direitos”


(Robert Nozick, prefácio de “Anarquia, Estado e Utopia”)


Estudos Humanistas apresenta:

A TEORIA DA JUSTIÇA REVISITADA:
IGUALITARISMO E LIBERTARIANISMO
John Rawls (1921-2002) e Robert Nozick (1938-2002)




Nosso projeto de extensão promoverá um debate sobre alguns dos principais conceitos (e implicações) de dois dos pensadores que revitalizaram a Filosofia Política Contemporânea: o que pensam sobre o conflito igualdade x liberdade, os direitos de propriedade, a formação do estado, a justiça social, a redistribuição de renda etc.
Também discutiremos estudos de caso que possibilitem uma melhor compreensão de ambas as teorias.

Leitura recomendada:
NOZICK, Robert. "Anarquia, Estado e Utopia" (trechos selecionados) . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
RAWLS, John. "Justiça como Equidade" (trechos selecionados) . São Paulo: Martins Fontes, 2003.
(os textos estão na pasta 11 da xerox do CADIR - FA)


Professores convidados:
- Paulo Nascimento (IPOL) - O
que é a Filosofia Política?
- Roberto Ellery (ECO) - Leitura econômica das Teorias da Justiça


Sexta-feira, 23 de Julho, 15 horas, na sala A1-04 (FA).

julho 16, 2010

Filosofia e Religião em Evangelion

Qual a relação dos Anjos e EVAs com a Bíblia?

Como se desenvolvem os dramas psicológicos e existenciais de Shinji Ikari, Rei Ayanami e Asuka Soryu?

O Projeto de Instrumentalidade Humana tem inspiração hegeliana? E o "Dilema do Ouriço", lembra Schopenhauer?


Estas e outras questões serão debatidas no 24º colóquio, que faz parte do Ciclo sobre Cultura Japonesa:

FILOSOFIA E RELIGIÃO EM EVANGELION


Neon Genesis Evangelion é um dos animes/mangás mais aclamados dos anos 90. Com uma trama recheada de referências (inclusive psicanalíticas), tornou-se popular não somente entre crianças, adolescentes e otakus, mas também entre adultos interessados nas discussões filosóficas dos personagens.
Lidaremos com algumas dessas alegorias e intertextualidades em nosso debate, que será na segunda-feira, 19 de Julho, às 20h, no Café Senhoritas (CLN 408).
Como sugestão videográfica, indicamos os episódios 19 (Introjection), 25 (Do you love me?) e 26 (Take care of yourself) e os dois filmes: Death and Rebirth e The End of Evangelion. Todos podem ser baixados pelo site Kanze Animes.

Contamos com a sua presença!

julho 14, 2010

L'État n'est pas moi

(Por Luiz Fernando)


De hoje em diante o projeto ESTUDOS HUMANISTAS comemorará e homenageará as datas de acontecimentos importantes para a humanidade.
Comecemos hoje lembrando a importância da Revolução Francesa, pois hoje, dia 14 de julho, é aniversário de 221 anos da queda da Bastilha.Por incrível que pareça, um dos fatos que pode ter sido o início da Revolução Francesa, teve como um dos protagonistas o pão. As revoltas populares, em Paris e no interior da França, tiveram início pelo aumento do preço do pão e, culminaram no dia 14 de julho de 1789, quando o povo saiu às ruas e invadiu a Bastilha. A Bastilha era uma prisão construída em 1370. No século XVII tornou-se uma prisão para nobres ou letrados, adversários políticos, aqueles que se opunham ao governo ou mesmo à religião oficial. Mesmo abrigando 7 mil prisioneiros no dia 14 de julho, foi invadida pelo povo.
Este momento histórico foi muito importante pois marca o início da participação do povo na revolução, mostrando que o país se encontrava numa grave crise econômica.
Com isto, e com o fato da nobreza se negar a abrir mão de seus privilégios, o rei Luís XVI se viu forçado a convocar uma Assembléia dos Estados Gerais, que reuniu representantes do Clero, da Nobreza e do Povo (burgueses).
Em 17 de julho, os representantes do povo se proclamaram Assembléia Nacional, o que mostrou o nível de organização dos burgueses, obrigando o rei a aceitar o fato de que eles eram capazes de elaborar leis. Então iniciaram-se os conflitos entre o povo e a nobreza que marcaram a revolução.

saluer! grêle!
liberté
fraternité
et l'égalité

julho 10, 2010

Ética e Estética em "O Retrato de Dorian Gray"

Debate realizado em 9 de Julho.

1. Biografia

- Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde nasceu em 16 de Outubro de 1854, em Dublin. Filho de intelectuais irlandeses, desde a infância teve uma educação refinada. Estudou nas universidades de Trinity e Oxford, sendo que na última conheceu Walter Pater, cujos estudos sobre a Renascença, que enfatizavam o sensualismo, exerceram profunda influência sobre Wilde.

- Participou do movimento esteticista, que defendia visões subversivas sobre arte e sociedade. Aos 30 anos, casou-se com Constance Lloyd. Trabalhou como crítico de arte na década de 1880.

- Ganhou fama inicialmente por sua oratória sarcástica e envolvente e por seus gostos e vestes extravagantes. Porém, suas peças de teatro e contos começaram a ser reconhecidos. Seu único romance, “O Retrato de Dorian Gray”, foi um sucesso comercial. Wilde foi um artista que (deliberadamente) chocou a sociedade vitoriana, e também obteve popularidade em Paris.

- A partir de 1891, desenvolveu um relacionamento com Alfred Douglas, 16 anos mais jovem que ele. Foi um caso turbulento, com muitas separações e reconciliações. Incentivado por “Bosie”, o autor envolveu-se com gays prostitutos do underground londrino.

- Acusado de sodomia pelo marquês de Queensbery, pai de Douglas, foi levado a julgamento. A vida íntima de Oscar Wilde foi devassada, com provas (cartas, principalmente) expostas ao longo do tribunal. Foi preso em 1895, condenado a dois anos de trabalhos forçados. Depois que foi libertado, o escritor exilou-se em Paris. Faleceu em 30 de Novembro de 1900, vítima de meningite cerebral.

2. Interpretação

- O prefácio de “O Retrato de Dorian Gray” é tido como um manifesto artístico, em defesa daquilo que, à época, chamava-se esteticismo ou dandismo. O artista é criador de beleza. (...) Não existem livros morais nem livros imorais. Um livro ou é bem ou mal escrito. (...) Toda arte é essencialmente inútil.” (pp.7-9). Com isso, o autor dirige-se ao leitor proponda uma ética diferenciada em sua obra, a qual coloca a beleza como prioridade. Seu livro, portanto, não deveria ser avaliado quanto à edificação (ensinar o Bem, pautar-se por valores tidos como elevados), mas quanto à forma (levar a uma experiência artisticamente agradável e prazerosa). Além do mais, aquilo que é inutilidade na perspectiva burguesa não o é para o esteta.

- Dorian Gray: um jovem de extraordinária beleza, que, assim como o Narciso mítico, não era autoconsciente dela. Porém, quando seu amigo pintor Basil produz um quadro para o qual ele foi modelo, Dorian começa a entender todos os elogios e bajulações que costumavam lhe fazer. Além disso, foi profundamente inspirado pelas idéias de Lorde Henry, como no seu ode à juventude. Dali em diante, torna-se um autêntico narcisista. Ao longo da obra, torna-se progressivamente orgulhoso e preocupado apenas com seus próprios prazeres e caprichos. Seu relacionamento curto e traumático com Sibyl Vane é um exemplo disso. “Sim - gritou ele -, matou o meu amor. Costumava excitar a minha imaginação. Agora nem sequer excita a minha curiosidade. Não exerce qualquer efeito em mim. Eu amava-a porque era maravilhosa, porque possuía gênio e inteligência, porque realizava os sonhos dos grandes poetas e dava forma e substância às sombras da arte. Agora deitou tudo a perder. É fútil e estúpida. Meu Deus! Que louco fui em amá-la!” (p. 138)

- Lorde Henry: o cinismo em pessoa. Leva uma vida de nobre ocioso e que só preocupa com o “supérfluo”, e é auto-indulgente quanto a isso. Está sempre criticando acidamente os hábitos e costumes de sua época, marcada pela hipocrisia (por exemplo, na separação radical entre vida pública e privada e na filantropia); Henry Wotton preza pela sinceridade. Talvez seja o personagem de perfil mais próximo ao do próprio Wilde. O seguinte diálogo demonstra sua predileção por se expressar em aforismos:

- Não gosta então do seu país? - perguntou-lhe.

- É nele que vivo.

- Para melhor o censurar.

- Quer que eu assuma o veredicto da Europa sobre ele? - inquiriu.

- Que dizem eles de nós?

- Que Tartufo emigrou para Inglaterra e abriu uma loja.

- A frase é de sua autoria, Harry?

- Ofereço-lha.

- Não poderia usá-la. É demasiado verdadeira.

- Não tenha receio. Os nossos compatriotas nunca reconhecem uma descrição.

- São práticos.

- São mais astutos do que práticos. Quando fazem o balanço no livro razão, saldam a estupidez com a fortuna e o vício com a hipocrisia.

- Mesmo assim, temos feito grandes coisas.

- As grandes coisas é que foram lançadas sobre nós, Gladys.

- Temos carregado com esse fardo.

- Somente até à Bolsa de Valores.

Ela fez um aceno negativo com a cabeça.

- Acredito na raça - exclamou.

- Representa a sobrevivência do esforço.

- Tem evoluído.

- A decadência seduz-me mais.

- E a Arte? - perguntou ela.

- É uma doença.

- O Amor?

- Uma ilusão.

- A Religião?

- O moderno substituto da Crença.

- Você é um céptico.

- Nunca! O cepticismo é o começo da Fé.

- Você o que é?

- Definir é limitar.” (p. 297-298)

- Basil Hallward: apaixonado por Dorian, ele encontrou no rapaz uma fonte de inspiração artística. Chega mesmo a afirmar que revelou muito de si mesmo no retrato que fez de D. Gray. Dos três amigos, é o mais moralista, porque acredita que o Bem e o Belo não podem ser separados. Preocupado com os arroubos imorais de Harry (apelido de Henry Wotton), lamenta-se quando Dorian se torna uma pessoa cada vez mais insensível e arrogante. “Adorei-o demasiado. Fui castigado. E você adorou demasiado a si mesmo. Fomos ambos castigados” (p. 241)

- O retrato: Dorian indigna-se quando vê a obra pronta, pois é tão bela que ele logo nota que ela continuará sempre encantadora, enquanto ele irá envelhecer. Sendo assim, em uma espécie de “reza”, ele pede para que o quadro sofra as marcas do tempo, enquanto que ele continuaria sempre jovem e esbelto. Porém, ao longo da obra, D. Gray percebe que, toda vez que comete algo pecaminoso, o quadro reflete isso: por exemplo, um sorriso cruel, rugas, desbotamento dos cabelos etc. Muitos comparam esta trama com a venda da alma ao diabo presente na lenda do Fausto ou mesmo com romances góticos como “O Médico e o Monstro” (Stevenson). “O retrato, quer mudasse ou não, tornar-se-ia o símbolo de sua consciência” (p. 144)

- Os diálogos: sempre marcados pelo deboche e sarcasmo dos personagens. Ocupam a maior parte do livro, e revelam mais sobre a história do que as descrições do narrador.

O político olhou para ele intensamente.

- Que transformações propõe então? - perguntou.

Lord Henry riu-se.

- Não desejo mudar nada em Inglaterra, excepto o tempo - respondeu ele. - Satisfaz-me bastante a reflexão filosófica. Mas, como o século XIX abriu falência devido a um excesso de dispêndio com a simpatia, eu sugeria que recorrêssemos à Ciência para nos organizar. A vantagem das emoções é a de nos extraviar, e a vantagem da Ciência é a de não ter emoções.

- Mas nós temos responsabilidades tão graves - arriscou Mrs.

Vandeleur, timidamente.

- Terrivelmente graves - repetiu, como um eco, Lady Agatha.

Lorde Henry dirigiu um olhar para Mr. Erskine.

- A Humanidade leva-se a si própria demasiado a sério. Esse é o pecado original do mundo. Se o homem da caverna tivesse aprendido a rir, a História teria sido diferente.

- O senhor, realmente, deu-me ânimo - interveio a duquesa, com gorjeios na voz. - Tive sempre uma certa sensação de culpa quando vinha ver a sua querida tia, pois não me interessa absolutamente nada o East End. Futuramente, poderei olhá-la de frente sem corar.

- Um certo rubor fica muito bem, duquesa - observou Lorde Henry.

- Só quando somos jovens - retorquiu ela. - Quando uma senhora de idade como eu fica corada é mau sinal. Ai, Lorde Henry, se me pudesse dizer como ficar jovem outra vez.

Ele ficou a pensar por uns instantes.

- Consegue lembrar-se de algum erro grave que tenha cometido nos seus tempos de juventude, duquesa? - perguntou-lhe ele, olhando-a do outro lado da mesa.

- Muitos, receio bem - exclamou ela.

- Então cometa-os outra vez - disse ele, gravemente. – Para se voltar à juventude, basta que se repitam as mesmas loucuras.

- Que teoria deliciosa! - exclamou ela. - Tenho de pô-la em prática.

- Que perigosa teoria! - foram as palavras saídas dos lábios estreitamente apertados de Sir Thomas.” (p. 66 e 69)

- Aristocratismo anárquico: o aproxima-se de Nietzsche ao ter posições simultaneamente aristocráticas (desprezo por doutrinas sociais e a própria questão da pobreza, tida como esteticamente desagradável) e rebeldes em relação ao “status quo” burguês. As opiniões políticas do autor revelam isso nitidamente. Em “A Alma do Homem sob o Socialismo”, ele apresenta uma visão anarquista da ideologia socialista, enfatizando elementos individualistas, incomuns nas versões marxista e fabiana, e elitistas. Enfim, algo como um “socialismo aristocrático”. Para que haja um livre e pleno desenvolvimento das capacidades humanas, certas instituições burguesas (como o casamento e a propriedade) deveriam ser abolidas.

- Os crimes: o protagonista sente pouca ou nenhuma culpa quando, por exemplo, descobre do suicídio de Sibyl ou quando assassina Basil. Esta corrupção é carregada de auto-indulgência e fascinação pelo moralmente reprovável. “Havia momentos em que o mal aparecia como um dos meios de realizar a sua concepção do belo” (p. 223).

- Ética e Estética: embora seja claro que Wilde pregue o relativismo moral, por estar em desacordo com os costumes vigentes em seu contexto social e histórico, não se pode dizer que ele também relativize a ética. Porém, o autor parece buscar uma nova concepção.

Enquanto a filosofia alemã (Schiller, por exemplo) via na estética uma doutrina teórica (dar sensibilidade à razão e vice-versa, permitindo a abertura a todas as possibilidades, o que seria fundamental para a própria faculdade de juízo), os franceses e ingleses promoveram um movimento artístico chamado esteticismo. Este valorizava a beleza como supremo ideal e pregava duplicidade (viver uma vida dupla, sem se sentir pressionado a minar personalidades latentes), influência (aprender com algo ou alguém a perder a inocência e a inexperiência) e, em última instância, a recusa da idéia de responsabilidade, pois um indivíduo, se cometeu algo tipo como reprovável, não deve se sentir culpado por seus atos.

Ou seja, ao contrário dos gregos (que viam a ética e a estética como indissociáveis) e dos cristãos (que, pela própria valorização da alma em detrimento da matéria, colocavam o Bem como mais importante que o Belo), os esteticistas defendem que a beleza pode contrariar o que é considerado valoroso, justo e correto. Porém, os contos wildeanos, de teor moralizante, voltam ao ideal grego de junção de ambas. Portanto, por mais que as idéias e as condutas do autor sejam moralmente controversas à sua época, isso não quer dizer que ele esteja abolindo noções éticas, mas sim defendendo que o Belo ganha papel primordial nelas – mesmo que a custo de prejudicar outras regras de conduta igualmente (ou até mais) importantes.

- Hedonismo: concebe o prazer como o único valor intrínseco, o que justifica a busca que tudo aquilo que dê o mínimo de dor e o máximo de gozo. Defendido por Henry, praticado por Dorian. Propõe viver a vida ao extremo, pois a juventude é finita, e o melhor a se fazer é aproveitar todas as possibilidades e prazeres oferecidos pela vida. Com isso, não há restrições para a busca de tudo aquilo que é tido como pecado. O protagonista, seguindo tal filosofia de vida, dedica-se ao luxo e à luxúria.

Sim, deveria haver, como profetizara Lord Henry, um novo hedonismo que recriasse a vida e a salvasse desse austero e sombrio puritanismo que, curiosamente, está de novo em voga nos nossos dias. (...) Deveria (...) ensinar o homem a concentrar-se nos momentos da vida, visto ela ser um breve momento.” (p. 200)

- Hipocrisia ou arrependimento? No último capítulo, aliviado pela morte de James Vane, que pretendia vingar a irmã Sibyl, ele parece resoluto a praticar boas ações. Porém, permanece-lhe a dúvida se realmente ele mudou ou se tal atitude não passa de vaidade. Seu “suicídio” (ele enfia uma faca no quadro-retrato) inverte os papéis: seu cadáver é de um homem velho e de aparência desagradável, e toda a beleza e juventude que possuía enquanto vivo “transferem-se” para o quadro. Com isso, o belo Dorian eterniza-se na obra de arte. Portanto, embora nos momentos finais fique subentendida certa mensagem moral (“Todo excesso, assim como toda renúncia, traz a sua punição”), o desfecho mantém, com as devidas proporções, a relação Beleza > Bem.

3. Revisão bibliográfica

- Há algo paradoxal a respeito da ética da beleza. Conflitos acirrados entre Oscar Wilde e os críticos o levaram a propor uma ética da beleza : não existe essa coisa de um livro moral ou imoral. Livros são bem ou mal escritos. Importa que um livro seja belamente escrito. Mas como Oscar Wilde ficou exacerbado por comentários de críticos que chama de corruptos e ignorantes, é difícil poder se chegar a algum diálogo e muito mais ainda a um consenso sobre a ética da beleza como critério de leitura de um texto literário. Ficará mais facil aos críticos entender que a beleza exacerbada como temática do texto "O retrato de Dorian Gray" tenha servido posteriormente à própria condenação de Oscar Wilde, da qual os críticos podem aparecer como cúmplices. A ética da beleza mesclada à agressão de Oscar Wilde contra os críticos não pde ser alheia à agressão da condenação. (...)Algo paradoxal: Oscar Wilde propõe uma ética da beleza. E o livro mostra como a absolutização da beleza acaba sendo a-ética.”

(“A Beleza em O Retrato de Dorian Gray”, Jacques Laberge)

- Wilde com seu The Picture of Dorian Gray (O Retrato de Dorian Gray) foi o responsável pela criação do principal exemplar romanesco inglês do decadentismo esteticista. (...) O fato do jovem terminar por esconder o quadro é uma metáfora sobre a atitude tomada pela sociedade burguesa com relação à arte. Ao invés de aprender com ela, de reconhecê-la como modelo denunciatório das corrupções do humano na realidade, a sociedade burguesa prefere desviar os olhos. A figura do esteta enquanto degustador dos pecados é criticada através do protagonista. Os ensinamentos de Pater são (re)apresentados pelo personagem de Henry Wotton apenas para serem desacreditados. O próprio Pater, em resenha sobre o livro, observa que lorde Wotton não consegue reconhecer que a vida da mera sensação é anárquica e autodestrutiva. Dorian Gray é seu discípulo e termina mal, é o primeiro mártir do esteticismo à la Pater e a negação wildeana da divisão entre ética e estética.”

(“Um Esteta na Pátria do Utilitarismo”, Ricardo Miskolci)

4. Wilde e o Glam Rock

- “O Retrato de Dorian Gray” tornou-se o livro de cabeceira da juventude decadente da Inglaterra vitoriana, nos últimos anos do século XIX. Mesmo que, na época, tenha sido discutido mais pela imoralidade que pela qualidade literária – foi inclusive usado como uma das provas contrárias a Wilde em seu julgamento -, com o passar dos anos passou a ser considerado como um clássico moderno.

- A influência dos escritos wildeanos (e o estilo de vida que pregavam) alcançou o rock ‘n’ roll, principalmente a partir dos anos 70. O advento do glam rock representou uma fase deste estilo musical em que se mesclavam roupas espalhafatosas, shows teatrais, ênfase nas guitarras, maquiagem, androginia e todo tipo de excesso. É como se o “decadentismo” tivesse voltado, quase um século depois.

- David Bowie é o maior expoente dessa tendência. Seu disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972) foi um marco; era um album conceitual sobre um extraterrestre que é um “rock star”, que ao mesmo tempo prega paz e amor e é sexualmente promíscuo e “junkie” (usuário de drogas). Pode-se dizer que Bowie (o qual havia se declarado bissexual, meses antes) estava falando de libertação sexual de uma forma genuinamente artística – algo que Wilde certamente aprovaria. O cantor Boy George, por exemplo, disse: “Num tempo em que tabus sociais e sexuais estavam sendo quebrados, Bowie, como o personagem Ziggy Stardust, criou um mundo onde as possibilidades eram infinitas: você podia ser quem quisesse”.

- Na década seguinte, um dos destaques foi o conjunto The Smiths, cujo vocalista, Stephen Morrissey, era um fã confesso de Oscar Wilde. A canção “Cemetery Gates” é uma homenagem ao escritor nascido em Dublin (assim como o próprio Morrissey). Temáticas homoeróticas aparecem em canções como “Hand in Glove” e “The Boy with the Thorn Is His Side”.

- Nos anos 90, a estética andrógina voltou ao rock britânico, por meio de bandas como Suede e Placebo. Em canções sexualmente ambíguas, nas quais celebravam um estilo de vida hedonista (“The Drowners” e “Nancy Boy”, respectivamente, p. ex.), foram importantes na cena musical do Britpop.

julho 06, 2010

Debate sobre Dorian Gray

“Não existem livros morais nem livros imorais.
Um livro ou é bem ou mal escrito.
Toda arte é essencialmente inútil.”
(Prefácio de “O Retrato de Dorian Gray”)

ESTUDOS HUMANISTAS apresenta:

ÉTICA E ESTÉTICA EM “O RETRATO DE DORIAN GRAY”
Nosso projeto de extensão promoverá um debate sobre a obra-prima de Oscar Wilde (1854-1900). Publicado há 120 anos, este romance, que provocou polêmica com seu teor homoerótico e vários personagens moralmente relativistas, trata, ao longo de seu enredo, de um leque de temáticas interessantes.
Discutiremos alguns aspectos literários, histórico-culturais e filosóficos da obra, tais como: o aristocratismo anárquico de Wilde; o contexto decadente da Inglaterra vitoriana; a posição do esteticismo em relação à ética ocidental (Beleza > Bem?); o narcisismo de Dorian Gray; o hedonismo defendido por Lorde Henry; a influência do escritor sobre o glam rock.
Como convidados especiais, os professores Paulo Nascimento (IPOL) e Pawel Hejmanowski (TEL).

SEXTA-FEIRA, 9 DE JULHO, ÀS 15 HORAS, NO AUDITÓRIO JOAQUIM NABUCO (FA).

Ética e Moral em Death Note

22º colóquio, realizado em 5 de Julho.

1. Interpretação

- Justiça: tema central de “Death Note”, permeia o perfil psicológico de todos os personagens.

. Light Yagami: entre o amoralismo e a “purificação”, manipulação em prol do objetivo maior;

. L: conservador, ele defende a lei e a punição dos assassinos, independentemente de suas motivações;

. Misa: subjetivismo ético, lida com pessoas próximas;

. Mikami Teru: maniqueísmo e radicalismo na defesa de suas convicções;

. Near: existe uma justiça verdadeira que não pode ser comprometida por valores menores;

. Mello: a liberdade para alcançar uma meta é absoluta.

- Ética da convicção: os fins justificam os meios. (Maquiavel, Weber)

- Relativismo moral: contextualização dos valores. (Mannheim, Ayn Rand)

- Sociopatia: distúrbio psicológico que leva a comportamentos anti-sociais (desde misantropia até indiferença à vida alheia), estando presente em vários personagens;

- Lógica e Retórica: tanto Light quanto L (e, mais tarde, Near) revelam um incrível raciocínio dedutivo. O primeiro ainda se notabiliza por sua capacidade de convencimento. (Duelos intelectuais são constantes em nossa sociedade?)

- Banalização da morte: os Shinigamis revelam a fragilidade humana perante ao óbito - ao invés de céu e inferno, o “nada”. (Os “deuses da morte” e o destino)

- Culto de massas: em certo momento da série, o Kira torna-se tão popular que adquire aspectos quase messiânicos perante a população. Programas de TV sensacionalistas, mobilizações populares, delações anônimas. (Relação com Totalitarismo?)

- Exibir trechos dos seguintes episódios: ep. 1, 20:12; ep. 2, 13:49; ep. 24, 04:45; ep. 25, 12:14; ep. 32, 01:45; ep. 37, 10:22.

- Relacionar com “C rime e Castigo” e “Fausto”.

2. Revisão bibliográfica

Deuses da morte só comem maçãs.

Postado por Will ( http://asteroideparticular.blogspot.com/ )

Morbidez, ética, moral, intelectualismo e entretenimento.

Por que ignorei as tantas vezes que me recomendaram este anime?

O fato é que, recentemente, comecei a assistir a Death Note. Eu não diria que estou viciado, porém estou fascinado e até um pouco apaixonado pelo conjunto todo que o anime apresenta.

Acabaram-se as lutas, os monstros gigantes, os cabelos e roupas que mudam de cor e tamanho: a batalha é intelectual e a vitória trará como recompensa a sobrevivência. Aparentemente pode parecer que o anime será monótono, porém é uma falsa impressão - até porque a maioria de nós assistiu Dragon Ball Z (e gostou de fazê-lo), embora sejam longuíssimos episódios preenchidos com meia dúzia de palavras e muitos minutos focados num só cenário inerte.

Um dos pontos fortes de Death Note, senão o seu carro-chefe, é a quebra do maniqueísmo. Acabou-se o conceito de bom e mau, tendo um antagonista e uma protagonista que acreditam SER a Justiça. De um lado, um estudante de capacidades excepcionais que recebe um caderno que lhe dá a possibilidade de matar qualquer pessoa cujos nome e rosto sejam conhecidos, e que decide, com este caderno, acabar com todos aqueles que julgar maléficos ao mundo, criando um novo mundo: um mundo ideal, para o qual seria um deus. De outro lado, temos um investigador excêntrico e com não menos inteligência que vê nessa atitude apenas uma série de assassinatos, sejam eles contra inocentes ou não, o que vai contra a ordem pré-estabelecida e contra as leis, ao seu ver, trata-se, pois, de um jovem infantil que deseja julgar por si próprio o que é bom ou não para o mundo. Oras, é claro que há mais detalhes, mas repito que não gosto de transcrever coisas que são facilmente encontradas no Wikipedia ou qualquer outro site por aí.

Portanto temos a questão moral e a ética. O estudante, Raito, está com a razão ao ir contra a lei e exterminar todos aqueles que criminosos e/ou corruptos? Ou terá razão L, o investigador, ao ver por trás dessa máscara apenas um assassino em série não menos criminoso e muito mais perigoso? Raito está sendo imoral, porém estará faltando com a ética? Talvez lhe faltem ambos, mas o que ele faz é correto ou não? A sua ambição em querer ser deus faz da sua "justiça" algo errado? Ela seria errada por si só? O que você faria se tivesse esse caderno em mãos? O anime não faz diretamente essas perguntas, porém insinua. Os dois principais são colegas de faculdade, estão trabalhando juntos, são parecidíssimos, porém são, simultaneamente, opostos.

O trabalho psicológico, lógico, mítico e mesmo com o roteiro é fabuloso. Há sim algumas tiradas um tanto forçadas, embora se mostrem, depois, perdoáveis, justificáveis e até desejáveis. Assistir a Death Note é como ver na prática os diversos livros e textos acerca de ética e moral, dentre outros temas. Lembra até um pouco de Maquiavel, sobre "o fim justificam os meios". O enredo ocorre indiferente a isso, porém o expectador não consegue fazê-lo da mesma forma, o que, por sua vez, me recorda Machado de Assis, cujos contos dão a mesma sensação: ele não pára a narrativa para questionar a ética de seus personagens, se estão agindo corretamente ou não, embora o sugira com o avanço da história, porém o leitor acaba por se perguntar o que faria no lugar da personagem.

Finalizo logo, antes que me prolongue demais, dizendo que este é um título que por ora assistirei, mas que depois lerei no formato mangá, com toda a certeza. Agradeço a todos que me sugeriram, e recomendo àqueles que ainda não o conhecem. Penso que mesmo os mais aficcionados por ação gostarão deste anime.


Death Note Mini Review (manga/anime/movies/etc.)

March 18th, 2008 by Lianne ( http://sleepisfortheweak.org/reviews/micros/deathnote )

Death Note is a fantastic manga series, a decent anime series, and a surprisingly good set of movies with unique and intensely clever endings (although don’t watch them until you complete the manga, because they spoil the story up through Volume 12). Death Note has dedicated fans of every age, gender, and culture. Still, I think Death Note is more than good - it’s revolutionary. While trying to explain why, I promise to avoid spoilers.

Death Note is about a brilliant teenage boy named Light who finds a supernatural notebook that gives him the power to kill whomever he wants. He decides to kill all criminals in order to make himself the proper leader of a world without crime - and that, to him, is justice. Then another brilliant boy his age named L is dispatched from Interpol to stop him, because the police, and L, believe that true justice (and the foundation of civilization) is holding everyone to the same rules formed by group consensus (aka laws). Misa, another girl with the power to kill, believes in a very subjective justice that will allow her to punish or reward the people she feels she has the right to judge, aka people directly involved in her life. Then there’s Near, the young detective who believes true justice dictates that one must never compromise even the smallest of morals for the greater good, and Mello, who believes that justice is allowing the personal freedom of any man to chase his ambitions, no matter what rules he might break. There are a number of other characters who have different interpretations of what “justice” is (and some views are repeats or slight modifications), but those are the big ones.

Death Note ran in Shounen Jump alongside series like Yu-Gi-Oh, so it used a traditional shounen formula to gets it point across - a relatively quick premise set-up, a cast of characters with obvious motivations, and then lots and lots of action with lots and lots of explanation; in Death Note, the action is Light trying to out-deduce L, the police, the world, etc. and not get caught while killing off the world’s criminals. However, the only real theme the writer him/herself pushes is the futility of mortality, since the Death Notes originally come from gods of death and humans can only manipulate those greater powers to a certain degree. But the broader theme of Death Note - the definition of true, universal justice for all people - is left entirely to the reader. The intentionally flat (albeit interesting) characters each represent an interpretation of what justice is, and the manga itself doesn’t claim that any character is right or wrong. It’s up to the reader to decide whether or not there IS a universal justice and what that justice might be, after s/he has been exposed to a number of different viewpoints. The reader can also easily come up with his/her OWN viewpoint after digesting all the characters’ views, since most of the characters aren’t even shown in a positive light. Death Note took its young readership by the hand and introduced it to heavy, broad themes about crime & punishment, murder, and the legal system and then forced those readers to think for themselves. Some junior high boy in Japan could turn a page in that magazine about ninjas turning into demons and then face a story that made him decide who in a world of killers was doing the right thing - if anyone was doing the right thing, really.

Death Note obviously has a broader audience than Japanese junior high boys, but the service it did that historic readership is nothing short of revolutionary. I think a lot of the criticisms I hear about Death Note don’t take into account the original intent and/or audience of the manga.

Here’s a short list of common Death Note criticisms and my arguments against them:

Death Note is too wordy/rambly. For anyone who’s never read a shounen manga before, weekly deadlines, long serializations, and a younger readership have traditionally encouraged very long, detailed explanations of the action in a series. Besides, in Death Note, most of the main characters are sociopaths, so I think a meticulous unraveling of their thought processes and motivations is justifiable.

The characters are unlikable. The average reader would be lucky to really relate to any of the members of the Death Note cast. Most of the characters are decidedly creepy, and they rarely grow or develop over the series because they’re each representatives of different interpretations of justice. They’re interesting, but symbolic - and definitely not cuddly. Which is why I find plush versions of the characters deeply confusing.

The second half of the series is bad. I think pretty much everyone will agree that the second half is substantially weaker than the first half, but a.) the second half brings up a new collection of interesting developments/insights and thus has a reason for existing and b.) the fact that an insanely popular Shounen Jump series was allowed to end on Volume 12 was nothing short of a miracle. On what planet could a money-maker like Death Note end after seven volumes? We’re lucky it didn’t drag on well beyond 12 and completely sabotage its artistic merit.

Death Note is sexist. I actually think this is the strongest complaint one could make about Death Note, and I think the series barely dodges the misogyny bullet - and possibly by accident. Every super genius in the series is male, the women are all largely if not completely motivated by the men in their lives (while the men are usually broader thinking), and even the male characters with very open minds seem to offhandedly undermine the efforts and successes of the female characters. Misa proving that the patriarchy can be beaten at its own game by using men’s low opinions of her against them just barely saves the series from being definitively sexist. But the fact that the writer him/herself seems to be trying to undermine Death Note’s female characters at every available opportunity - including Misa - makes me think that s/he makes Misa succeed for the sake of the plot and not feminism.

Anyway, despite these or any other complaints that can reasonably be made, I think Death Note’s successes in writing, art, and intent vastly eclipse any flaws the series has. Death Note has a definite, noble purpose, and it nails that purpose while simultaneously being addictive and appealing to an extremely broad audience. I’ll stand by Death Note until the end of time.

Educated impression: I think this is one of the best comics ever put to paper. No series can completely please everyone or change how all of its readers think - but Death Note comes shockingly close.