junho 10, 2011

"O Banquete": entre os louvores a Eros e o Amor Platônico

52º colóquio, realizado em 6 de Junho.

1. Resumo da obra

- Fedro: o amor é importante para a ética. Eros é o deus mais antigo. Em discurso eloqüente, diz que o amor dirige a vida; quando se ama, tem-se vergonha de agir de forma reprovável ou humilhante. O amor insufla coragem, concede um dom. A ternura do amado (eronte) pelo amante (erasta) é mais admirável.


- Pausânias: estudo sociológico e cultural sobre as formas como o amor é tratado em diversas cidades gregas. Existem dois tipos de Eros, filho de duas Afrodites: a mais antiga (Urânia), mais elevada, e a mais nova (Pandêmia), mais carnal. Em Atenas, a regra ética para amantes é diferenciada. O ensino da virtude como finalidade do amor: o amante guia, o amado protege.


- Erixímaco: relaciona amor com medicina. Entende esta como a arte de amar; corpo são, mente sã. Homeopatia; a saúde tem a ver com a harmonia. Cabe ao médico advertir. Música, assim como o amor, harmoniza. Ceder ao amor de pessoas com costumes regrados leva ao amor celeste (Eros Urânio). Desregramento leva à doença.


- Aristófanes: existiam 3 gêneros: homens, andróginos e mulheres. O andrógino tem 4 mãos, 4 orelhas, 4 pernas, 2 órgãos genitais, andam em linha reta ou rolam. Por serem muito fortes e orgulhosos, desafiam os deuses, os quais resolvem cortá-los pela metade. O umbigo é a memória de uma completude que não voltará. Na medida em que cada um sente falta de sua cara-metade, o amor (Eros) é falta, procura.


- Ágaton: ao contrário de Fedro, diz que Eros é um deus muito jovem, e que detesta a velhice. Também é delicado, sensível e flexível. Antes do amor, havia o reino da necessidade. Eros transforma o homem em poeta. O amor é uma potência criadora que atinge homens, deuses e a natureza.


- Sócrates: ironiza o aspecto sofístico do discurso de Ágaton, que, embora belo, foi vazio. O filósofo se propõe a não fazer um elogio a Eros, mas a procurar dizer a verdade sobre ele (elogio filosófico). Quando já possuímos algo, não o desejamos. O amor consiste em saber da sua própria falta e limitação. Se ele ama a beleza, não pode ser belo.


- Diotima: embora não seja bom e belo, o amor não é feio e mau. Ele não é um deus, mas um daimon (demônio), um intermediário entre o sábio e o ignorante. O amor é filho da mendiga Penúria e do nobre Poros (Caminho). Eros pode ajudar a alcançar o que ele próprio não possui. Ele possui sete características: relação, desejo do que falta, intermediário, potência de união, filósofo (“um deus não deseja filosofar, pois já é sábio”), amante (o amor é aquele que ama) e parto (relação com a fecundidade, desejo de imortalidade).


- Alcibíades: embriagado, sente ciúmes de Sócrates e Ágaton, e relata várias situações que indicariam a frieza do filósofo perante os seus arroubos românticos. Diz-se escravizado por este amor. Porém, acaba por tecer um louvor a Sócrates. Embora utilize palavras vulgares, os discursos deste são inteligentes e dotados do desejo de beleza e plenitude.


2. Revisão Bibliográfica


2.1. Werner Jaeger

"Paidéia", pp. 718-749: O “Banquete” é um duelo de palavras entre pessoas que ocupam posições elevadas. A obra é a encarnação visível do primado da filosofia sobre a poesia. Para alcançar esta dignidade, a filosofia teve de converter-se também em poesia, ou pelo menos criar obras poéticas de primeira grandeza.

Já em Homero nos deparamos com os banquetes enquanto locais em que se glorificava a arete masculina (virtude) em palavras poéticas. Não se deve perder de vista a relação existente entre a escola filosófica e a tradição e prática dos banquetes, uma vez que estes figuravam entre as formas fixas de sociabilidade de mestres e alunos. É Platão o criador na nova forma filosófica do banquete. Ao valorizar a bebida, ele tem a certeza de que a filosofia infunde sentido novo a tudo, convertendo em valores positivos mesmo aquilo que bordeja a zona de perigo.

A idéia central do banquete é a união do eros e da Paidéia. Sem o impulso dionisíaco (as forças irracionais do Homem), jamais será possível atingir o cume da transfiguração suprema que atinge o espírito, quando este contempla a idéia do Belo.

O principal encanto dramático da obra reside na maestria das caracterizações individuais, que faz dos tipos antagônicos das concepções do eros dominante uma sinfonia incomparavelmente rica. O discurso socrático de Diotima é a cúpula do edifício, em que os discursos precedentes são como degraus que vão gradualmente subindo até ele.

Ao contrário de outros diálogos, não é Sócrates quem segura aqui a batuta de toda a discussão; ele é um de muitos oradores, e, além disso, o último. É por isso que só no final do “Banquete” a dialética aparece, em perfeito contraste com a retórica e brilhante poesia dos demais personagens. Em Fedro, há um duelo consciente da retórica sofística com a poesia. Falta-lhe, no entanto, precisão e uma definição concreta, aspectos melhor trabalhados por Pausânias. É na harmonia que Erixímaco vê a essência do eros, em uma concepção naturalista. Em uma audaciosa visão poética, Aristófanes apresenta o eros como o que se perdeu e que portanto se pretende voltar a encontrar. O discurso de Ágaton é o menos psicológico e mais idealista, voltado a enaltecer a perfeição de Eros. É, aliás, este discurso que Platão escolhe para fundo imediato do de Sócrates, justamente para por o esteta, sensualmente refinado, em contraste com o asceta filósofo.

Para Platão, o conceito de eros torna-se a suma e o compêndio da aspiração humana ao bem. Ao mesmo tempo, ele é o impulso para a verdadeira realização essencial da natureza humana, e portanto um impulso cultural no mais profundo sentido da palavra.

O significado humanista da teoria do eros no “Banquete”, como um impulso inato ao Homem que o leva à expansão do seu mais elevado eu, parte de uma distinção entre o homem-individualidade-fortuita e o homem superior.



2.2. Allan Bloom

Conclusão de "The Closing of the American Mind" (p. 381): "After a reading of the Symposium a serious student came with deep melancholy and said it was impossible to imagine that magic Athenian atmosphere reproduced, in which friendly men, educated, lively, on a footing of equality, civilized but natural, came together and told wonderful stories about the meaning of their longing. But such experiences are always accessible. Actually, this playful discussion took place in the midst of a terrible war that Athens was destined to lose, and Aristophanes and Socrates at least could foresee that this meant the decline of Greek civilization. But they were not given to culture despair, and in these terrible political circumstances, their abandon to the joy of nature proved the viability of what is best in man, independent of accidents, of circumstance. We feel ourselves too dependent on history and culture. This student did not have Socrates, but he had Plato's book about him, which might even be better; he had brains, friends and a country happily free enough to let them gather and speak as they will. What is essential about that dialogue, or any of the Platonic dialogues, is reproducible in almost all times and places. He and his friends can think together. It requires much thought to learn that this thinking might be what it is all for. That's where we are beginning to fail. But it is right under our noses, improbable but always present."


2.3. Harold Bloom


"Como Encontrar a Sabedoria": Única obra platônica que rivaliza em beleza com os poemas de Homero. A perspicácia de Platão implica a desleitura criativa de um precursor poético dominante, a fim de abrir espaço criativo para o que vem depois. A filosofia é arte literária, semelhante ou mesmo superior à arte de Homero, sendo também a arte da dialética, da conversação inteligente e refinada. O Sócrates de Platão encarna a arte do eros. A sapiência é o objetivo de Platão.

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