outubro 05, 2010

Menger, o Revolucionário... Marginalista

32º colóquio, realizado em 4 de Outubro.

1 – Biografia
- Carl Menger nasceu em 28 de Fevereiro de 1840.
- Estudou nas universidades de Praga e Viena, e obteve doutorado em Jurisprudência. Menger trabalhou como jornalista durante algum tempo, analisando notícias relacionadas ao mercado.
- Sua principal contribuição acadêmica foi a obra “Princípios de Economia Política”, publicada em 1871, na qual chegou a conclusões parecidas às de Jevons e Walras, outros dois economistas que publicaram naquele mesmo ano: o valor subjetivo e a utilidade marginal na determinação dos preços.
- Dedicou boa parte do restante de sua produção ao debate metodológico com a Escola Histórica de Economia, que era muito popular à época na Alemanha. Defendia o individualismo metodológico e rejeitava o uso da matemática. Seu desânimo com o mundo acadêmico alemão levou-o a se aposentar em 1903, para dedicar mais tempo aos estudos.
- Faleceu em 1921, dois dias antes de completar 81 anos de idade.

2 – “Princípios de Economia Política”
- Segundo Ricardo Feijó, Menger parte de uma epistemologia naturalista: “A teoria exata identifica as leis que comandam as ocorrências de fenômenos que se seguem a partir de elementos naturais que são as necessidades humanas e os bens. O processo social é entendido como um resultado genético da operação dos elementos últimos e mais simples da vida econômica, tidos como eternos e universais.” (Feijó, 2000: 172)
- Todas as coisas são regidas pelo princípio de causa e efeito.
- Utilidades: coisas que têm nexo causal e aptidão com necessidades humanas.
- Bens: reconhecimento do nexo causal e possibilidade + capacidade de utilizar referidas coisas.
- Quatro pressupostos: existência de necessidade, qualidades, reconhecimento e disponibilidade.
- Bens de primeira ordem envolvem consumo direto, imediato; já os de ordem superior são meios de produção, e precisam ser complementares para produzir os de ordem inferior.
- Princípio geral: “para que os bens de ordem superior conservem sua qualidade de bem, requer-se que possamos dispor de seus bens complementares na referida acepção da palavra.” (p. 250)
- Incerteza econômica é uma categoria fundamental.
- Previdência: clareza sobre demanda e bens disponíveis.
- Bens econômicos: grande demanda e pouca oferta. Sua delimitação parte das seguintes providências: 1) adquirir qualquer quantidade possível dos referidos bens; 2) evitar que estes bens percam sua qualidade de úteis; 3) escolher entre necessidades mais e menos importantes; 4) máximo proveito possível das quantidades de bens disponíveis.
- Economia: “conjunto total das atividades do homem orientadas para os objetivos acima descritos” (p. 269)
- O aumento da demanda envolve fatores ligados à população, à evolução das necessidades e ao progresso.
- Bens de ordem superior têm características econômicas condicionadas por aquele de ordem inferior (produção).
- Patrimônio é diferente de riqueza, pois aquele envolve bens e este, apenas os bens econômicos, pois pressupõe atividade econômica.
- Valor: importância de certos bens concretos para atender às nossas necessidades. Enquanto a previdência é economia, o valor envolve significados. Sendo assim, o valor não é algo inerente aos próprios bens, mas um juízo. Subjetividade.
- O fator subjetivo na variação do grau de importância das diversas necessidades a serem atendidas: a conservação precede o bem-estar, que por sua vez é mais cotado que o lazer. Exemplo da escala de 1 a 10, e a comparação entre comida e fumo (p. 291).
- Fator objetivo: conjunto complexo de bens e finalidades; exemplo da “seqüência do trigo” (p. 293). O valor de uma porção da quantidade total disponível é, para uma pessoa, igual à importância que tem, para ela, o atendimento da necessidade de menor grau de importância (à margem), dentre as necessidades cujo atendimento é ainda garantido pela quantidade total.
- Cinco princípios: 1) importância (valor) é transferida; 2) grau de importância é variável, dependendo do atendimento ao bem-estar e à conservação; 3) grau de valor também varia; 4) dependência restringe-se à necessidade menos importante; 5) valor de bem concreto é igual à importância das necessidades menos importantes.
- Responde-se ao famoso dilema da água e do ouro (ou diamante) com a constatação de que este é mais escasso, portanto tem valor elevado, enquanto a água potável, em geral, não tem nenhum valor – sendo assim um bem não-econômico.
- Quem avalia a importância das diversas necessidades a serem atendidas é o próprio indivíduo, e o seu juízo está sujeito a erro.
- A utilidade econômica auferível da utilização econômica dos bens de ordem superior é condicionada pela necessidade de disporem, após atenderem a demanda do futuro próximo, de quantidades de bens para períodos mais remotos.
- A troca possibilita que as necessidades de dois indivíduos (ex.: A e B) sejam melhor atendidas do que o seriam no caso de não se fazer tal transferência.
- O princípio do maior empenho dos indivíduos no pleno atendimento de suas necessidades também os leva a procurar situações de transferência de bens que possibilitem este melhor atendimento. Para isso, é preciso: 1) possuir bens com valor menor do que aqueles em posse de outro indivíduo; 2) consciência (conhecer e reconhecer situação) de ambos os indivíduos; 3) possibilidade de concretizar a troca de bens.
- Limite (além do qual a troca se torna antieconômica): quando uma das partes não possui quantidade de bens que, para ela, tenha valor menor que o de uma quantidade outro bem pelo 2º indivíduo – havendo para este uma relação de valor inversa.
- Não existem mercadorias de valor igual (equivalentes) no sentido objetivo da palavra.
- Preço do monopolista exclui concorrentes da aquisição de quantidades de determinado bem. Seus preços costumam se restringir às camadas superiores.
- A concorrência possibilita que mais pessoas poderão dispor de quantidades até então mantidas com exclusividade pelo monopolista. Além disso, tende a fazer chegar seus produtos às camadas mais baixas.
- O efeito sobre a formação de preços e distribuição de bens entre os pretendentes da mercadoria é sempre o mesmo, tanto em monopólio quanto em concorrência.
- Valor de uso: importância, para nós, de certos bens por nos assegurarem de maneira direta o atendimento de necessidades.
- Valor de troca: importância de determinados bens pelo fato de a posse dos mesmos nos assegurar a mesma coisa, em condições iguais, mas de forma indireta.
- Se existem bases para a troca econômica, o valor econômico é o valor de troca; nos demais casos, prevalece o valor de uso.
- Fatores de variação: 1) se a atividade perde interesse para o proprietário (diminui o valor de uso e aumenta o de troca); 2) mudanças das características de um bem; 3) aumento da quantidade dos respectivos bens. 
- Mercadoria: bens econômicos de qualquer espécie destinados à troca. Não é algo inerente, mas uma relação especial (provisória) do bem com a pessoa que o possui.
- Limitações da vendabilidade das mercadorias: 1) em relação às pessoas às quais as mercadorias podem ser vendidas (sem necessidade, motivos legais, não conhecem oportunidades de troca etc.); 2) território; 3) quantidade; 4) períodos dentro dos quais encontram mercado.
- Capacidade de circulação é diferente de vendabilidade, mas os quatro fatores confluem.
- Interesse econômico de cada indivíduo (portanto, próprio e pessoal), sem que haja interesse público ou coerção legal, leva-o a trocar suas mercadorias por outras mais vendáveis.
- Dinheiro é produto natural da própria economia, baseado em hábitos e costumes. Não é produto da convenção ou de atos legislativos (“invenção dos povos”).
- A moeda é apenas uma modalidade do dinheiro. Ex. da Grécia e dos povos do México (p. 379-383).
- A intenção do avaliador depende de três fatores: 1) calcular preço pelo qual determinados bens poderiam ser vendidos; 2) pelo qual poderiam ser comprados; 3) a quantidade de mercadoria (ou respectiva soma de dinheiro) que, para determinado indivíduo, represente o equivalente de um bem, ou quantidade deste. Temos, assim, o preço de procura (1) e o preço de oferta (2).
- Dinheiro é parâmetro do preço. Não transfere “valores”. Já a moeda baseia-se na comodidade e conveniência de certos meios de troca, como os metais.

3 – Influências
- Escola Austríaca: iniciou uma tradição de pensamento econômico que atravessou os últimos 140 anos, passando por Böhm-Bawerk, Wieser, Mises, Hayek, Rothbard, entre outros. As implicações libertárias (ou, para alguns, conservadoras) que seus sucessores implicaram de sua teoria econômica deram aos “austríacos” uma reputação controversa no meio acadêmico.
- Síntese neoclássica: sua teoria marginalista desafiou o pensamento dos clássicos (inclusive marxistas) sobre a teoria do valor, ao associá-lo à utilidade e não ao trabalho. Os neoclássicos compartilham de seu método dedutivo e individualista.

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