37º colóquio, realizado em 17 de Janeiro.
- A inaptidão social e prática dos filósofos (p. 37-38)
Basta consultar os historiadores para mostrar que o “rei filósofo” desejado por Platão é um funesto malogro; vários estadistas iluminados (os irmãos Graco, Cícero...) perturbaram a paz da República. O ar grave e severo dos filósofos os impede de um ter uma vida social agradável.
- Conselhos irritantes dos filósofos (p. 43)
Os belos discursos e aconselhamentos dos sábios muitas vezes são impertinentes. “Não há prudência mais perniciosa que a que não sabe adaptar-se aos tempos e às circunstâncias, e que gostaria que a comédia não fosse uma comédia. ‘Bebam, ou vão embora! ’”
- Imortalidade através dos livros x escritores de bagatelas e plagiadores (p. 81-82)
Os autores que escrevem obras refletidas sofrem muito para compô-las e morrem prematuramente. Tanto esforço só será apreciado por um reduzido número de leitores. “Feliz, ao contrário, é o autor que compõe sob meus auspícios!” O escritor de bagatelas consegue arrancar elogios com suas frivolidades. O mesmo vale para aqueles que plagiam – pelo menos até serem descobertos.
- Filósofos, sofistas (p. 84) e as disputas mesquinhas dos teólogos (p. 85-89)
Sofistas, além de tagarelar, brigam e teimam pelas coisas mais vãs e ridículas. Filósofos, tão auto-confiantes quanto à grandiosidade de seu pensamento, não conhecem nem a si próprios; a natureza zomba deles. “Não conhecem absolutamente nada e orgulham-se de saber tudo”.
Teólogos “são pessoas que não admitem brincadeiras e que se enfurecem por uma ninharia”. Ocupam-se com proposições implícitas e explícitas, noções, relações, formalidades... Certamente criticaram a definição de fé de São Paulo por pecar contra regras da lógica. Os apóstolos precisariam freqüentar as escolas aristotélicas e de Duns Scotus para aprender certas distinções conceituais.
- Sugestão – um exército de teólogos (p. 90); exageros que estes cometem (p. 91-92)
Na próxima cruzada, talvez seja interessante enviar um exército de escolásticos, cujas disputas por picuinhas levariam a uma fácil vitória. Os teólogos, “ocupados dia e noite com essas deliciosas mesquinharias, não têm um instante livre para percorrer, uma única vez na vida, o Evangelho...”
- Sutilezas teológicas (p. 98-100)
Os sábios conseguem, a partir da análise das palavras, descobrir sutilezas superiores às de um Demóstenes ou Cícero. Recorrem a várias estratégias retóricas para causar maior impressão. Ex.: os casos latinos para J. Cristo -> Jesus, Jesum, Jesu indicam palavras iniciadas em S (summum), M (medium) e U (ultimum) que indicam que Jesus é o princípio, o meio e o fim.
- Loucos pagãos (p. 113) e cristãos (p. 114-117)
Muitos sábios gregos e romanos enalteciam a Loucura. “É doce desvairar no momento certo”, já diria Horácio. Quanto aos exemplos judaico-cristãos: Eclesiastes (“O número dos loucos é infinito”), Salomão (“... numa alma em que há muito bom senso, há também muitos motivos de descontentamento”), São Paulo (“Falo como louco, e o sou mais que ninguém”).
- Interpretação sofística de passagens bíblicas (p. 119-122)
Estes hábeis doutores conseguem fazer interpretações curiosas das palavras de Cristo; vêem espada onde se clama por desapego aos bens materiais. Outros conseguem analisar uma expressão latina (“devita”) de tal forma que “evitar o herege” vira “suprimir a vida”, queimar hereges.
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