novembro 13, 2010

A Aristocracia do Dinheiro vs. Os Espoliadores em "A Revolta de Atlas"

12ª reunião do Grupo de Estudos Humanistas, em 12 de Novembro.

1. Interpretação
- “Hierarquia de almas”: gênios criadores (Dagny Taggart, Henry Rearden, Ellis Wyatt), medianos esforçados (Eddie Willers, Cheryl Brooks), gênios corrompidos (Robert Stadler – e Francisco D’Anconia?), medianos auto-indulgentes (James Taggart, Lillian Rearden) e espoliadores (Orren Boyle, Bertram Scudder, Simon Pritchett). Comparações com “A Nascente”: Roark, Wynand, Keating e Toohey.
- Características valorizadas e rechaçadas. Valores defendidos: razão, propósito e auto-estima. Virtudes respectivas: racionalidade (razão como única fonte de conhecimento), produtividade (trabalho) e orgulho (ambição moral). Baseia-se em uma versão não-religiosa do direito natural.
- A virtude do egoísmo: “O melhor sistema social é aquele que deixa os homens livres para conquistarem e manterem seus valores.”
- Quadro sociopolítico. Social-democracia. Declínio econômico e caos social. Forte intervenção do Estado na economia: regulações, estatizações, protecionismo, reservas de mercado, programas habitacionais. Críticas ao New Deal.
- Robin Hood como metáfora dos espoliadores. Relativismo moral. Altruísmo servil.
- A fábrica coletivista: “a cada um, de acordo com suas capacidades, a cada um, de acordo com suas necessidades”.
- A greve dos talentos criadores. Francisco D’Anconia torna-se um playboy, e Danneskjöld, um pirata.
- Duas perguntas vêm à tona: quem é o interlocutor de Willers no restaurante da empresa? Ele tem alguma relação com os desaparecimentos?
- Ayn Rand parece dever muito de sua filosofia a duas figuras quase diametralmente opostas: Aristóteles e Nietzsche. Lógica e realismo epistemológico. Vontade de potência. Super-homem e moralidade do “rebanho”. Uma teoria aristocrática, com toques de liberalismo econômico.
- É possível apontar relações entre os postulados políticos e econômicos de “A Revolta de Atlas” com a Escola Austríaca e a Public Choice. Ação a partir do desconforto; o método dedutivo e axiomático de “Ação Humana” (Mises). Lobbies e rent-seeking.
- Curiosidade: Frank O’Connor, marido de Rand, parece ser uma inspiração para o nome de Francisco D’Anconia.
- Conduta despótica de Rand enquanto líder da “seita” objetivista. 
- Como são tratadas as relações sociais no romance: família, amizade, trabalho, casamento.
- O ideal almejado: self-made (wo)men, racional e individualista. O Objetivismo como uma corrente do Libertarianismo. Liberdade e responsabilidade. Mito de Prometeu. Crença na possibilidade da glória e grandeza individual.
- Os problemas morais dos personagens “do bem”. Misantropia? Falta de freios sociais? Subornos?

2. Revisão bibliográfica
- Whittaker Chambers, “Big Sister Is Watching You”: crítica devastadora, veio a ser considerada a posição oficial de muitos conservadores americanos em relação a Ayn Rand. Chambers alerta para o aspecto ditatorial da retórica de Rand; também alega que ela, em seu ateísmo e materialismo, se iguala a Marx.
- Jason Lee Steorts, “Ayn Rand and Whittaker Chambers”: mais ameno que Chambers, embora também não compactue com a filosofia de Rand, tenta refutar algumas das críticas que aquele fizera na sua resenha de 1957. Por exemplo, ele demonstra que os “prime movers” não instalariam uma ordem social compulsória.
- Brian Doherty, “Radicals For Capitalism”: “Atlas” é uma dramatização dos efeitos de princípios filosóficos – tanto os de Rand quanto os de seus inimigos - no mundo real, um “tour de force” que pode inspirar tanto uma mudança na vida do leitor quanto uma profunda e poderosa repugnância. Embora pautada por um ideal, a maior parte do romance é soturna, em tom de pesadelo; foca-se mais intensamente no terror da destruição do que na glória do crescimento. Não por acaso, embora ela defenda paz, liberdade e desenvolvimento, seus detratores a acusam de ter escrito “A Revolta de Atlas” sob um espírito de ódio. Embora fosse uma deliberada oposição à cultura de seu tempo, a obra foi um best-seller. Porém, a autora era muito elitista para se contentar com o sucesso comercial; o que ela mais queria eram indivíduos geniais, encarnações dos valores que ela pregava na obra – e isso Rand não encontrou.


Um comentário:

  1. Interessante blog, kaio! vc entende bem de assuntos interessantes. continue.
    o totalitarismo pode estar voltando..os livres mercados estão fraquejando!
    Marx já dizia que o liberalismo econômico (capitalismo) era transitório, pois crises eram inerentes ao sistema.

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