- Em "A Questão Homérica", sua introdução à Ilíada (Homero), Carlos Alberto Nunes afirma que esta obra é uma epopéia genuína, com enraizamento histórico e valores e especificamente gregos, enquanto a Odisséia é como um romance, por tratar de uma situação universal e generalizável (a longa jornada de volta para casa do herói). Odisseu é um herói mais racional e prudente do que Aquiles. O enredo da Odisséia é mais transponível para outras épocas e culturas. Será, contudo, que esse critério da capacidade de generalização basta para qualificar a Odisséia como "romance"?
- Paidéia (Werner Jaeger): autor busca evitar anacronismo; ver paidéia com olhos gregos. O homem como idéia, forma perfeita. Problematização pelos gregos da própria idéia de formação. O problema é que Jaeger coloca cultura grega num pedestal, superior às outras. Questão essencialista: a "aptidão inata" dos gregos. Jaeger toma posição com base em algo naturalizante. Além disso, desliza entre abordagem historicizante e prescritiva/edificante, ao reivindicar perenidade dos valores gregos (Paidéia, pp. 17-18).
- Aproximação de Jaeger e Voegelin (que defende "restauração" da cultura clássica): valores gregos são tomados como perpétuos; risco de essencialização e idealização. Por outro lado, autores como Jaeger oferecem contraponto ao cientificismo e à especialização, que empobrecem o espírito.
- Ilíada: empatia do poeta pelos troianos. (Ibidem, p. 71) Ex.: o fato de esta epopéia terminar com o funeral de Heitor.
- O poeta como educador; "intérprete e criador da tradição" (p. 72).
- Cegueira tanto de Agamenon quanto de Aquiles; arrependimento deste por ter persistido no rancor e na cólera. (p. 75) A Ilíada não é uma "aquiléia"; primeiro, porque o desfecho não é a morte de Aquiles, pois a obra trata apenas de um episódio da guerra, e não do conflito inteiro; segundo, porque há um momento em que Aquiles recua e outros heróis podem aparecer.
- Romance polifônico tende à épica; destino de um povo. Ex.: Os Irmãos Karamázov (Dostoiévski). O romance "tradicional" se concentra no herói individual (vide Lukács, A Teoria do Romance, trecho sobre Dostoiévski).
- Aspiração à totalidade, à universalidade na obra de Homero. Pensamento "filosófico relativamo à natureza humana. Contemplar o particular à luz do geral. Premissas universais, exemplos míticos "julgados tipos e ideais imperativos" (p. 76).
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