novembro 13, 2010

O Clássico Underground da Economia: O Racionalismo Epistemológico em "Ação Humana"

9ª reunião do Grupo de Estudos Humanistas, realizada em 1º de Outubro.

1 – Biografia
- Nasceu em 1883 na cidade de Lemberg, que à época pertencia ao Império Austro-Húngaro (atualmente, localiza-se na Ucrânia).
- Estudou na Universidade de Viena, onde obteve seu doutorado em 1906. O economista Carl Menger exerceu influência sobre seus estudos. Também freqüentou palestras de Eugen von Böhm-Bawerk e foi amigo de Max Weber.
- Temendo a perseguição nazista, deixou a Áustria em 1934, mudando-se para a Suíça. Seis anos depois, emigrou para os Estados Unidos. Lecionou como professor visitante na New York University entre 45 e 69. Sempre enfrentou dificuldades financeiras, e durante muitos anos recebeu ajuda do Volker Fund.
- No final de 1958, pronunciou seis conferências em Buenos Aires, nas quais divulgou as bases do pensamento econômico liberal. Anos depois de sua morte, sua esposa publicou as transcrições, sob o título de “As Seis Lições”.
- Principais obras: “Socialismo” (1922), “Liberalismo segundo a Tradição Clássica” (1927), “Uma Crítica ao Intervencionismo” (1929), “Ação Humana” (1949) e “A Mentalidade Anti-Capitalista” (1956).
- Mises veio a falecer aos 92 anos de idade, em Nova York (1973).

2 – Interpretação
- Considerado o mais importante tratado de economia do Século XX. A economia é uma ciência da ação humana, ou seja, praxeologia. A partir de críticas epistemológicas ao positivismo e metodológicas à economia matemática, Ludwig von Mises expõe as vantagens de uma economia de livre mercado em relação ao planejamento governamental. O funcionamento do mercado e dos preços, o cálculo econômico e a expansão de crédito também são discutidos.
- Introdução: epistemologia racionalista. 
"O estudo da ação humana, na óptica de Mises, seria necessariamente a priori, partindo de axiomas considerados não meras hipóteses de partida, mas proposições apoditicamente corretas. Toda a análise subseqüente decorre logicamente desses pressupostos, como uma necessidade lógica." (Feijó, 2000: 100)
- Ação humana: é comportamento propositado; é a vontade posta em operação e transformada em deliberação. Visa fins e objetivos, constituindo a resposta significativa do ego ao estímulo e às condições do ambiente, é o ajuste pessoal consciente ao estado do universo que determina sua vida. Não é simplesmente manifestação de preferência.
Há três motivos que impelem o homem a agir:
1. O reconhecimento do desconforto.
2. A imagem de uma situação melhor.
3. A expectativa de que o comportamento propositado possa afastar ou pelo menos aliviar o desconforto.
Se há contentamento/satisfação, não pode haver ação. É preciso que o agente homem se sinta em desconforto com estágio atual para que aja. A praxeologia é indiferente aos objetivos finais da ação; é uma ciência de meios. A ação humana é um dado irredutível, não podendo ser rastreada até suas origens. Causalidade é requisito da ação: meios e fins pressupõe causa e efeito.
- Racionalidade: cabe à ciência da ação humana estudar se os fins escolhidos são adequados à obtenção dos ifns pretendidos.
- Praxeologia: ocupa-se das categorias da ação humana.
- História: conjunto e arrumação sistemática de todos os dados relativos à experiência da ação humana; o conteúdo concreto, por assim dizer. Seu méotodo é a “compreensão” (o poder da mente humana de perceber ou apreender
- Crítica ao Monismo: métodos das ciências naturais não se aplicam às ciências humanas, pois estas lidam com fenômenos complexos.
- Individualismo Metodológico: tipo ideal como representação do fenômeno complexo da realidade (homem, instituições ou ideologias). Adoção do método “compreensivo” da história, de inspiração weberiana.
- Revolta contra a Razão
- Crítica ao Polilogismo
- O Gênio Criador: para os gênios, criar é a essência da vida; viver significa criar. Suas atividades não podem ser inteiramente enquadradas no conceito praxeológico de trabalho, pois são fins em si mesmos. A criação é agonia e tormento, e não há lazer, mas apenas intervalos de esterilidade e frustração. O talento criativo do gênio é, para a praxeologia, um fato irredutível. 
- Visão de mundo e Ideologia
- Mercado: é o corpo social por excelência. 
- Capitalismo: indissociável do conceito de economia de mercado. Capital é o conjunto de bens a ser investido considerado em termos monetários.
- Competição:
- Liberdade: refere-se à situação na qual um indivíduo tem a possibilidade de escolher entre modos de ação alternativos. Só faz sentido se envolve relações inter-humanas; “o homem não nasceu livre”. Liberdade e servidão dizem respeito à forma de funcionamento do governo (aparato social de compulsão e coerção). Numa organização social do tipo laissez-faire, há um campo onde o indivíduo é livre para escolher entre as diversas possibilidades de ação sem ser reprimido pela ameaça de punição. Numa sociedade totalitária e hegemônica é a “liberdade de cometer suicídio”. Liberdade econômica e negativa são enfatizadas. A liberdade não é produto de constituições, declarações de direito, leis ou regulamentos; estes documentos visam apenas a salvaguardar a liberdade, quando esta já está estabelecida pelo mercado. “Um homem é livre na medida em que possa moldar sua vida segundo seus próprios planos”.
- Lucro: diferença entre empresário e gerente.
- Atividade Empresarial: empresário se arrisca. Processo de seleção envolve obtenção de máxima satisfação possível.
- Indivíduo e Mercado: os únicos fatores que influenciam a formação de preços são as ações intencionais dos homens. A questão dos grupos de pressão. Ao comprar, os indivíduos se comportam como se só se estivessem ligados ao mercado como compradores, e como vendedores ao vender.
“Entendia a economia como uma ciência da ação humana (praxeologia), possuía uma epistemologia de caráter racionalista, no sentido de acreditar que haveria uma lógica universal que comandava as ações de cada indivíduo, o que permitiria reconstruir dedutivamente a natureza da ação intencionada. A partir disso, ele procura investigar racionalmente o processo de decisão humano, assim como o que leva uma economia de livre mercado a funcionar melhor que uma baseada em forte planejamento governamental.
Um de seus conceitos mais importantes é o de cálculo econômico, segundo o qual há uma escolha racional dos meios que os indivíduos empregam para atingir seus objetivos pretendidos. Ou seja, Mises tem uma abordagem conseqüencialista, por colocar como melhores escolhas aquelas que permitem maior eficiência e resultados mais prósperos.
Não por acaso, Mises critica o socialismo pela impossibilidade, em tal regime, de se fazer uso do cálculo econômico, pela inexistência de preços e outros referenciais indispensáveis para orientar a direção da atividade econômica.”


3 – Influência
- Escola Austríaca: discípulo de Carl Menger e Böhm-Bawerk, é considerado parte da 3ª Geração dessa escola heterodoxa de pensamento econômico, responsável por conceitos como utilidade marginal e teoria do valor subjetivo.
- Friedrich A. Hayek: discípulo de Mises, Hayek desenvolveu a teoria dos ciclos econômicos criada por ele. Graças a seus esforços teóricos, ganhou o Nobel de Economia em 1974.
- Libertarianismo: movimento político, filosófico e econômico que defende o Estado-mínimo e um liberalismo aprofundado, “os radicais pelo capitalismo” tiveram em Mises uma de suas maiores inspirações. A relevância deste economista austríaca estende-se desde o individualismo metodológico até o aspecto ideológico de sua defesa do livre mercado e sua crítica ao socialismo.
- Mises Institute: fundado em 1982 nos EUA, é uma think tank inspirada nas idéias de Ludwig Von Mises. Expressa posições libertárias, pacifistas e não-intervencionistas. Também possui sedes em outros países, inclusive o Brasil.


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