Quarto colóquio, realizado em 5 de Fevereiro.
1. Biografia
· Henry David Thoreau nasceu em 1817, na cidade de Concord.
· Formou-se
· Ligou-se ao movimento transcendentalista, formado por escritores como Ralph Waldo Emerson, mas não concordava com algumas reflexões mais místicas do grupo, alegando ter maior foco na vida e no presente.
· Trabalhou durante algum tempo como conferencista e escritor.
· Foi preso em 1846, por sonegação fiscal; já fazia seis anos que ele se recusava a pagar impostos. Sua tia, no entanto (e contra a vontade de Thoreau), pagou a fiança, e ele foi solto no dia seguinte. Esta experiência o marcou profundamente, e influenciaria seus escritos e atuação pública dali em diante.
· Em sua última década, demonstrou grande interesse por botânica, história natural e narrativa de viagens e expedições.
· Morreu de tuberculose aos 44 anos, em 1862, em sua cidade-natal.
2. “Walden: A Vida nos Bosques”
· Embora tenha sido publicado somente em 1854, começou a ser escrito antes de “A Desobediência Civil”. É a obra-prima de Thoreau.
· O livro possui certa alternância entre capítulos mais descritivos e analíticos, sempre marcados pelo humor e a perspicácia do autor ao observar a mesquinhez da vida urbana e o desprezo do homem moderno pela natureza.
· O autor morou dois anos perto do lago Walden, em um estilo de vida modesto, vivendo com o mínimo de recursos possível. Sendo assim, construiu a sua própria casa, plantou um jardim e, gastando o mínimo possível, comprou e cultivou comida.
· O famoso capítulo “Leituras” critica a falta de uma cultura letrada em Concord, e faz uma defesa das letras clássicas e de uma literatura mais sofisticada: “Os livros encerram o mais precioso tesouro do mundo e a digna herança das gerações e nações. (...) Só escalando esse monte de sapiência é que podemos ter a esperança de alcançar os céus algum dia. (...) Construamos um arco de sabedoria sobre o abismo escuro da ignorância que nos isola”.
· “Walden” possui um estilo bem metafórico, repleto de aforismos: “Um homem é rico em proporção ao número de coisas de que pode prescindir”;
· “Eu fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido”;
· “Toda a nossa vida é surpreendentemente moral. Não há um só instante de trégua entre a virtude e o vício. A bondade é o único investimento que nunca falha”;
· “Não cabe ao homem colocar-se em oposição à sociedade, mas manter-se em atitude compatível com as leis de seu ser, que não estarão em oposição às leis governamentais, se ele tiver a sorte de se defrontar com um governo justo”.
3. “A Desobediência Civil”
· Sua primeira edição data de 1849.
· O melhor governo é o que governa menos; porém, quando os homens estiverem preparados, pode-se ir além, e afirmar que o melhor governo é o que absolutamente não governa. Porém, em um sentido prático, pelo menos um governo que seja melhor do que o atual, no sentido de respeitar seus cidadãos, já é desejável.
· O governo em si é somente o modo que o povo escolheu para executar a sua vontade, é suscetível de abusos e deturpações que vão de encontro à aprovação popular.
· Em primeiro lugar, somos homens, e só depois súditos. Jamais se deve renunciar à própria consciência em prol do legislador. A única obrigação que se tem direito de assumir é a de sempre fazer o que se julga correto; a lei não nos torna mais justos.
· Toda votação é uma espécie de jogo, com um leve toque moral (o certo e o errado), embora o caráter dos votantes não esteja
· Aqueles que, ao mesmo tempo em que desaprovam o caráter e as medidas de um governo (guerras e escravidão, por exemplo), dão-lhe sua adesão e apoio (pagar impostos) são, certamente, seus maiores defensores, e os maiores obstáculos a qualquer reforma. Contribuir com sua cota ao Tesouro é consentir com as injustiças perpetradas pelo Estado.
· Em um governo que aprisiona qualquer um injustamente, o verdadeiro lugar para um homem justo é também a prisão.
· O Estado nunca se confronta com o sentido moral ou intelectual de um homem, mas com o seu corpo, seus sentidos. Para quê pedir a proteção dele se, quando alguém nega a sua autoridade ao não pagar impostos, ele se apossa e danifica toda a sua propriedade, e ainda importunará o indivíduo e sua família?
· Não é por nenhum item em particular que Thoreau se recusa a pagar os impostos, mas simplesmente porque se deseja recusar a adesão ao Estado, afastando-se e mantendo-se à distância dele; enfim, dedicando ao governo o menor número possível de pensamentos.
· O progresso de uma monarquia absoluta para uma monarquia constitucional, e desta para uma democracia, é um progresso no sentido do verdadeiro respeito pelo indivíduo. Será que a democracia tal como nós a conhecemos é o último aperfeiçoamento possível em termos de construir governos?
· Para que a autoridade do governo seja justa, deve ter a aprovação e o consentimento dos governados. Ou seja, não pode gozar de direito sobre uma pessoa e seus bens além do que ela lhe concede. Um Estado realmente livre e esclarecido precisa reconhecer o indivíduo como poder superior e independente, e do qual derivou o seu próprio poder e autoridade.
4. Influência
· Mahatma Gandhi, líder político no processo de Independência da Índia (1947), leu o livro quando estava na prisão, na África do Sul. Quem lhe recomendou a leitura foi o escritor russo Leon Tolstoi.
· Resistência passiva: vários movimentos por direitos civis durante o século XX (inclusive o de Martin Luther King, nos EUA) se inspiraram em “A Desobediência Civil” ao fazer protestos políticos baseados na não-cooperação com o Estado e no pacifismo.
· Libertarianismo: suas posições anti-Estado e favoráveis à liberdade individual, à independência e ao livre mercado foram de grande influência para o movimento libertário.
· Ecologia: H. D. Thoreau é considerado um dos primeiros ambientalistas. Ele associava natureza com liberdade, e demonstrava ceticismo quanto ao progresso tecnológico.
· “Na Natureza Selvagem" (“Into the Wild”), filme baseado na história de Christopher McCandless, um jovem que, após se formou, largou família, dinheiro e um futuro certo para viajar pelos EUA, tendo como destino final morar no Alasca. A postura ascética de Chris tem por influência a leitura de autores como Thoreau.
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