março 07, 2010

A Filosofia Objetivista de Ayn Rand


Primeiro colóquio, realizado em 13 de Janeiro.
Biografia
  • Nasce em São Petersburgo, em 1905.
  • Consegue visto e sai da Rússia bolchevique, em 1926.
  • Casa-se com o ator Frank O’Connor, em 1929.
  • Trabalha durante alguns anos como roteirista de cinema. No final dos anos 30, começa sua produção literária.
  • Massacrada pela crítica, seus livros alcançam imenso sucesso comercial gradualmente, graças ao “word of mouth”.
  • Relacionamento com o amante (e parceiro intelectual) Nathaliel Branden dura cerca de uma década, encerrando-se em 1968.
  • Fundadora do movimento objetivista, adquire forte influência entre jovens universitários nos anos 60. De certa maneira, atua na Guerra Fria cultural.
  • Morre de câncer de pulmão, em 1982.
A Virtude do Egoísmo
  • Egoísmo é a preocupação com nossos próprios interesses. Este conceito não inclui avaliação moral. Para o altruísmo, o critério de valor moral de uma ação é o seu benefício (o povo, o outro; menos a si mesmo).
  • O que importa é o que o homem escolhe para valorizar, e não quem ou o fato em si. Deve-se defender o direito do homem a uma existência moral racional; o homem deve ser o beneficiário de seus próprios atos morais.
  • Há, no entanto, a diferença entre agir de acordo com um código racional de princípios morais e guiar nossos atos por caprichos, desejos irracionais. Nesse segundo caso, temos um subjetivismo ético.
  • Valores: razão, propósito e auto-estima. Virtudes respectivas: racionalidade (razão como única fonte de conhecimento), produtividade (trabalho) e orgulho (ambição moral).
  • Todo ser humano é um fim em si mesmo, e não um meio para o bem-estar dos outros. Propósito moral mais alto do ser humano: realização de sua própria felicidade. Emoções básicas: felicidade (triunfo da vida) e sofrimento (alerta da morte).
  • Deve-se aceitar a própria vida como princípio fundamental e da busca dos valores requeridos por ela, para alcançar a felicidade.
  • Crítica à busca “egoísta” dos próprios caprichos (Nietzsche) e ao altruísmo servil ao capricho dos outros, que é um hedonismo ético-social (Bentham, Mill e Comte). Enfim, é um canibalismo moral.
  • Egoísmo racional: valores exigidos pela vida humana, sem o sacrifício de ninguém. Princípio da troca (negociantes de valor) gera justiça, pois somente quem se valoriza a si mesmo é capaz de valorizar alguém. Conhecimento e comércio são maiores ganhos da convivência social; são formas de cooperação.
  • Princípio político: ninguém possui o direito de iniciar o uso da força física contra os outros. No máximo, apenas em retaliação e contra aqueles que iniciam seu uso. O único propósito moral adequado de um governo é proteger os direitos das pessoas (vida, liberdade, propriedade e a busca da felicidade), o que inclui protegê-las da violência física.
  • A ética objetivista é a base moral do capitalismo – mas, aquele puro e desregulamentado (laissez-faire). O melhor sistema social é aquele que deixa os homens livres para conquistarem e manterem seus valores.
  • Deve-se agir sempre de acordo com a hierarquia de seus valores, pois somente ela permite juízos de valor e uma conduta racional.
  • Amor e amizade são valores profundamente egoístas. O amor é uma expressão de auto-estima e resposta aos valores pessoais em outra pessoa. Preocupar-se com o bem-estar de quem se ama é parte racional de interesses egoístas. A virtude em ajudar aqueles que se ama não é abnegação ou sacrifício, mas integridade (lealdade com convicções).
  • Riqueza e conhecimento não são presentes da natureza; têm que ser descobertos e conquistados pelo próprio esforço do indivíduo.
  • É indispensável assumir a responsabilidade de encontrar os meios necessários e adequados para que alcancemos nossos objetivos. Quem não é responsável pela própria vida e por seus próprios interesses, não leva em consideração os interesses e a vida dos outros. Ignora-se, assim, que pela cooperação social, eles também são responsáveis pela satisfação de seus desejos.
  • O compromisso entre a liberdade e o controle governamental é impossível. Aceitar algum controle, mesmo que seja “um pouco”, já é uma renúncia à inalienabilidade dos direitos individuais, em prol do princípio do poder arbitrário e ilimitado do governo.
  • Nada corrompe tanto uma cultura ou o caráter do homem quanto o agnosticismo moral; ou seja, a idéia de que não se deve fazer um julgamento moral dos outros. A conseqüência desta postura é o cinismo amoral, em que o medo da responsabilidade perante a uma realidade objetiva (afinal, não há como escapar das escolhas que devemos fazer, assim como dos valores morais implicados) leva certos indivíduos a se sentirem livres para fazer julgamentos irracionais.
  • Da mesma forma que o culto da incerteza, na epistemologia, é uma revolta contra a razão, o culto da moral cinzenta, na ética, é um revolta contra os valores morais. Em economia mista, por exemplo, há homens de premissas mistas, mas a mistura não permanece “cinza” indefinidamente; é apenas um prelúdio para a predominância do lado mais amoral.
  • A ética coletivizada, enquanto altruísmo, afirma que o infortúnio de uns é a hipoteca a ser paga por outros. Porém, isso prejudica a compreensão de direitos e do valor da vida de um indivíduo. Tal criação de deveres sociais é coercitiva e se sustenta por premissas frágeis.
  • Essencialmente, o socialismo é a negação dos direitos de propriedade individual, pois o uso e controle destes são coletivizados – o que não significa que o serão em benefício do povo; há uma tendência oligárquica. Se quem produz não possui o resultado de seu próprio esforço, não possui a própria vida, pois esta se torna propriedade do Estado. Tanto o nazismo quanto o comunismo são formas de socialismo, ambos tomados por uma ilusão de grandeza que justificaria as mortes e o despotismo.
  • Os direitos individuais são o meio de subordinar a sociedade à lei moral. Aliás, é justamente esta a realização mais revolucionária dos EUA, pois estes traçaram a distinção entre os criminosos e o governo, ao proibir ao segundo a versão legalizada das atividades do primeiro. Além disso, a defesa dos direitos do homem (ou seja, de sua liberdade de ação) passa pela defesa do capitalismo laissez-faire.
  • De forma sucinta, governo é o meio de colocar, sob leis objetivamente definidas, o uso retaliatório da força física. Cabe também ao governo a função de árbitro que decide as disputas (segundo leis objetivas), assim como proteger os contratos firmados entre os cidadãos. Sendo assim, em um sistema social adequado, qualquer um pode fazer o que quiser, exceto aquilo que é legalmente proibido. Porém, um funcionário do governo não pode fazer nada, a não ser aquilo que é legalmente permitido.
  • Para pagar as funções legítimas de um governo, bastaria uma taxação voluntária. Para aqueles que não podem pagar tal custeio, haveria um bônus propiciado por aqueles que podem fazê-lo. Isso, no entanto, não é redistribuição de riqueza, pois cobriria apenas benefícios indiretos (exemplo dos bancos desocupados de um trem).
  • O racismo é a forma mais cruel e primitiva de coletivismo, pois atribui significado moral e/ou sócio-político à linhagem genética de um homem. Ou seja, julga um homem não por sua própria índole ou ações, mas pelas índoles e ações de um coletivo de antepassados. Cria-se, assim, uma auto-estima automática. Porém, doutrinas, por mais nocivas que sejam, não podem ser proibidas por lei. O racismo privado é menos uma questão legal que moral. Os “direitos civis” (por exemplo, cotas raciais nas escolas), com o argumento de “equilíbrio racial”, também estão sendo racistas, ao criar uma culpa racial coletiva.
A Nascente
  • Adaptação cinematográfica (1949), com Gary Cooper no papel do protagonista: o impetuoso arquiteto Howard Roark.
  • Os quatro capítulos expõem os quatro tipos de indivíduos segundo Ayn Rand: Peter Keating (arquiteto, plagia desenhos arquitetônicos clássicos para fazer sucesso), o “homem que não poderia ser, e não sabe disso”; Ellsworth Toohey (vilão do livro, um relativista moral por excelência), o “homem que não poderia ser, e sabe disso”; Gail Wynand (ambicioso dono de uma grande cadeia de comunicações), o "homem que poderia ser"; e, por fim, Howard Roark (também arquiteto, enfrenta dificuldades por colocar sua integridade em primeiro lugar), o “homem que todo homem deveria ser”.
  • “A Nascente” (em inglês, “The Fountainhead”), em suas discussões sobre modernismo arquitetônico (e uma crítica ao apego às formas clássicas e ao ecletismo), mostra que a arte, para Ayn Rand, deve ser a perfeita expressão das idiossincrasias e do auto-interesse do artista; não deve, portanto, jamais ser movida pelo interesse comercial, caso este implique abrir mão dos ideais e da individualidade, em prol do que o “público” quer.
Quem é John Galt?
  • Obra-prima de Ayn Rand. É seu livro mais longo (cerca de 1100 páginas, na edição americana) e bem-sucedido.
  • Os homens e mulheres mais talentosos dos Estados Unidos (único país do mundo que ainda não se tornou uma “república socialista”), cansados de serem explorados pela ética coletivista predominante (e os problemas sociais e econômicos gerados por esta), resolve entrar em “greve”. Ao longo dos anos, povoam uma região afastada e isolada, e lá iniciam uma sociedade de moldes utópicos: sem Estado, apenas indivíduos excepcionais em suas respectivas áreas (petroquímica, engenharia, filosofia, arte, construção civil...). Todos unidos pelos mesmos valores: o livre mercado e o respeito mútuo.
  • Divisão maniqueísta da sociedade: de um lado, os egoístas racionais e individualistas, dotados de espírito inovador e empreendedor; do outro, os altruístas e “social-democratas”, preocupados com a “responsabilidade social” e o sacrifício dos ricos em benefício dos demais.
  • Crítica ao crescente intervencionismo na economia e sociedade americana após o New Deal, influenciado por economistas como Keynes. A visão de Rand sobre o governo apresenta convergência com as teses da Public Choice; por exemplo, quando explicita o jogo de interesses especiais e o uso questionável do dinheiro dos contribuintes pelas agências governamentais.
  • Longo discurso filosófico, proferido por John Galt, expõe as linhas gerais do pensamento objetivista. Além de afirmar a supremacia do indivíduo, critica-se o tom coercitivo e nocivo que a moral altruísta (a dos “usurpadores”) implica. Cada um de nós possui preferências completas, objetivas e que motivam ações – portanto, é condenável se render aos caprichos (sejam eles seus ou dos outros) ou à “sanção da vítima” (tolerar o parasitismo da maioria as pessoas à nossa volta, como se fosse um martírio inevitável). Outro discurso, feito por Francisco d’Anconia, notabiliza-se por apontar um lado moral no dinheiro.
Influência
  • Alan Greenspan – o ex-presidente do Federal Reserve era discípulo de Rand, e em sua atuação pública sempre prezou pelos princípios do livre mercado.
  • Ronald Reagan – a “nova direita” (neoliberais) chega ao poder nos EUA, em 1981, com um discurso em prol da redução do Estado e da valorização da iniciativa privada.
  • Filósofos, economistas, políticos e escritores libertários, mas também conservadores. Ayn Rand é respeitada pelos primeiros pela sua defesa da primazia do indivíduo (e seus talentos) e da liberdade de pensamento e ação; pelos segundos, por seus argumentos de defesa da propriedade privada e dos cortes vigorosos dos gastos públicos (“Welfare State”).
  • Os livros de Rand continuam a vender muito bem (principalmente nos Estados Unidos), ainda mais com a renovação do interesse pela autora, graças à escalada intervencionista dos últimos anos, em resposta (ou como causa?) para a crise econômica mundial.



3 comentários:

  1. Bem, não quero aparentar superficialidade, mas, todo sistema de dominação tem seus sacerdotes ou ideológos. Ayn se encaixa perfeitamente numa ideóloga do Clube de Bilderberg.

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  2. Mergulhado na visão de Ayn concluo que o colapso sugerido no Atlas Shrugged está prestes a acontecer a nivel mundial. Imagino que o tal do fim do mundo que "todos" pregam, será a chegada de John Galt parando o mundo. Adorei seu blog. Obrigado!

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